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Recordações de Casablanca.

por FJV, em 13.12.07




Dar El Beida (o seu nome em árabe) ocupa o lugar de várias cidades abandonadas. Em primeiro lugar, Anfa, a cidade que os portugueses arrasaram no século XV com dez mil soldados que expulsaram os seus habitantes. Depois, a modesta Casa Bran­ca portuguesa que o terramoto de 1755 destruiu e que foi reerguida cerca de 1770 pelo sultão Mohamed Ben Abdullah, que também fundou Essaouira. A nossa presença em Marrocos termina nessa altura, aliás, depois do abandono de Mazagão (El Jadida), cujos habitantes são enviados para o limite norte da Amazónia brasi­leira (actual Amapá). E a Casablanca onde está a marca dos mercadores espa­nhóis, antes de, no início do século XX, ser ocupada pelos franceses. É im­possível não ver na poeira de Casablanca a marca dessa história fantástica de uma cidade sitiada diante do Atlântico, po­voada e repovoada, abandonada e retoma­da, habitada por comunidades de todas as crenças, sobrevivente às guerras e inva­sões que atravessaram o Mediterrâneo.
O que transforma Casablanca «num caso», para todos nós, é que fica a cin­quenta minutos de Lisboa, do outro lado do Mediterrâneo. Em cinquenta minutos passamos de uma das margens da Europa para uma das fronteiras de África e do Is­lão. Há quem pense que se trata de uma passagem entre o que conhecemos e o que não conhecemos, mas não é bem assim. Casablanca recordou-me o belíssimo ro­mance histórico de Pedro Canais, A Len­da de Martim Regos (publicado pela Ofici­na do Livro) – nele, o herói Martim Regos passa de uma civilização a outra, da Cristandade ao Islão (com o judaísmo de permeio, ainda), com uma facilidade sur­preendente, transformando-se de acordo com a vida das cidades onde pernoita e dos países que o aceitam. Hoje, recordando Casablanca (que visitei em 2007), sinto que o Mediterrâneo nos separa de um mundo que devíamos conhecer melhor antes que a comunicação se torne totalmente impossível.
E é isto que nos devia incomodar.

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1 comentário

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De al cardoso a 14.12.2007 às 09:08

Sem duvida que devia!!!

Shalom

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