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Memórias de 2007. (2) A miséria estudantil.

por FJV, em 13.12.07


Um dos momentos de 2007 foi a divulgação do estudo «Inquérito aos estudantes da Universidade de Coimbra: consumos culturais, participação associativa e orientações perante a vida», realizado por Elíseo Estanque e Rui Bebiano. Vale a pena retomar o comentário, da época, escrito por Rui Bebiano no seu blog:
«Cerca de 18,3% dos inquiridos revelou jamais ler livros. Destes, 7,3% pertencem às Artes e Letras, 10,9% ao Direito e 13% às Ciências Sociais, áreas que estão num dos extremos da escala. No outro, quase 48% de Desporto e 40% dos alunos das diversas Engenharias afirmaram jamais pegarem em tais objectos. Do conjunto, para cada rapariga que declarou não ler livros, existem três rapazes que nunca o fazem. Partindo do princípio - não provado, mas que me parece admissível - de acordo com o qual muitos dos inquiridos terão, por pudor ou incerteza, entendido que raramente lêem quando de facto nunca lêem, os valores reais poderão ser ainda mais desoladores.»
Haver vinte por cento de estudantes de Letras que declararam que jamais lêem livros parece-me um dado aterrador. Os inquéritos internacionais ou nacionais sobre aproveitamento escolar e aquisição de conhecimentos (entre eles o PISA) podem revelar o estado da escola. Mas o estudo de Elíseo Estanque e do Rui é devastador para quem se preocupe com o estado das coisas. 44% dos inquiridos revelou ler sobretudo os diários nacionais (entre estes, 23% indicou o jornal Público e 21% os jornais desportivos).
Inquérito anterior, reproduzido no Expresso, mostrava que 64% dos estudantes do secundário frequentava os centros comerciais como local de lazer. Brava democracia que tais filhos produz. A culpa é nossa; não soubemos lidar com isto. É uma das coisas que não podemos esquecer, de ano para ano.

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9 comentários

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De João André a 20.12.2007 às 14:48

Cara Ana, também eu fui estudante em Coimbra, de engenharia química. Também eu tinha livros, artigos, apontamentos, sebentas, etc, para ler. Tinha ainda de ler os meus próprios relatórios para ver se estavam bons, já vê o suplício. Também não deixei de ir todas as semanas ao cinema pelo menos uma vez. Lia o jornal todos os dias (às vezes mais que um). Saía com amigos e dava os meus passeios. Ia às aulas também. Ainda por cima participei na AAC e nos órgãos de gestão da minha faculdade em todos os anos de Coimbra. Veja lá que, mesmo assim, ainda consegui arranjar tempo para ir lendo um livrinho por mês (média fraquinha, eu sei). Tudo com um orçamento de cerca de 50 contos. A única coisa que eu não fazia era ver televisão. Talvez fizesse diferença?

Caro António C., já agora adicione-se a leitura de SMS ao conceito, porque não? Ou dos tickers de notícias. Ou da publicidade. Ou das matrículas dos automóveis. Ou, relembrando Herman José, a posologia dos medicamentos. Na verdade, com tantas fontes de leitura, nem sei porqe razão há quem se queixe da falta de leitura...

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