No hard feelings a propósito do futebol.
José Pacheco Pereira é o mais popular dos bloggers políticos portugueses e tenho por ele um evidente respeito e admiração. Mas não compreendo. Ou seja: entendo o desprezo pela futebolite, pelo excesso de futebol, pelo país engalanado de redes e chuteiras, pelas televisões grasnando futebol, pelo totalitarismo do futebol. Partilho desse desprezo e dessa repulsa. Subordinar a agenda dos telejornais ao futebol parece-me uma excentricidade de subdesenvolvidos. Fazer horas e horas de directo na televisão com manifestações de rua em que toda a gente diz a mesma coisa, somos os maiores, somos campeões, só queremos Lisboa a arder, ninguém pára o SLB, etc., etc., nem sequer posso atribuir ao subdesenvolvimento mas à estupidez; delirar quando um cabecilha alcoolizado de um clube diz uma palavrinha, dependurado sobre o microfone, devia ser classificado como crime e as televisões de todo o país deviam desligar-se em simultâneo.
As pessoas são como são. Pacheco Pereira pode não saber o que é um livre de onze metros e alimentar sérias dúvidas sobre a sanidade dos seus compatriotas quando comentam uma trivela ou a razão por que Paulo Bento fala daquela maneira. Mas há um excesso de
hooliganismo anti-futebolístico que me surpreende com os seus sinais de distinção intelectual. Uma coisa é a futebolite, e a sua doença visível ou televisível; outra, diferente, é
a natureza da espécie, onde o gene do futebol está inscrito. Esse desprezo é uma coisa muito vista, muito. Digamos que a pegar-se aos limites do inumano.