De Renato C. a 02.05.2006 às 01:18
Este meu comentário padece do mau jeito de ter-se as calças na mão. Ainda assim, apetece-me escrever comó raio. Que tanto eu como a minha contribuinte-fiscal-metade nos encontramos na plenitude dos nossos períodos férteis — cada qual criativo, pois, à sua maneira. E, assim que termine estas linhas, acto-contínuo vou investir numa acção de despejo cuja estratégia me garantiram culminar infalivelmente no nascimento de trigémeos.
Sem dúvida de sombra, é evidente que a reforma da insegurança individual resultará profícua no recrudescimento dos combates destravados nas trincheiras da fornicação que, em consciência, se quer consequente e com fruto. Se daí advirá uma proporcionalidade directa na natalidade, a ver vamos; contudo, se assim não suceder advogo que se implemente um imposto sobre a infertilidade. E se o/a sujeito/a for passivo/a de actos nocivos para a própria saúde procriadora, tais como o tabagismo, o alcoolismo, o pézinho de coentradismo ou o benfiquismo, por exemplo, então multiplique-se por dois a base de incidência do dito. No mínimo. Tem de haver justiça, meu caro. Tem de vigorar (este último termo calha aqui mesmo bem, já agora) o princípio do não-procriador-pagador.
Se queremos estar seguros, temos de ser sociais. Se somos sociais, cada um tem de segurar o que é seu de quando em vez para ajudar os demais no espectro social a segurarem o que é nosso, socialmente falando. Um paradoxo muito mutualista. Aliás, venham daí as seguradoras apresentar novos produtos para quem não procria. Imagino que o Seguro do Pirilau Murcho (morte ou invalidez permanente) vá vender que se farta, mas não estarão cobertas situações de ligeira e fortuita má-disposição ou incapacidade meramente temporária. Upa! Exercício!
Felizmente, o Estado-previdente (pois é: quase, quase, mas não!) pensa em tudo. Brevemente estarão nos escaparates das concentrações de Finanças uns adereços de inegável e preciosa utilidade para a prossecução dos tão cruciais preliminares: os modelos. A saber: F4 (para quem tem 4 filhos), F5 (5 filhos), F6 (6 filhos) e por aí em diante. Bastará levantá-los (isto não soa muito bem…) previamente nas repartições e depois guardar em casa. Minutos antes do coito, cada qual folheia os modelos (haverá cambiantes masculina e feminina) e vai estimulando a sua libido fiscal. Porque homem que se preze gosta de ver uma modelo sensual, com tudo no sítio e ostentando aquele olhar felino que parece ter escrito na testa um sugestivo ‘vou-te sugar tudo’; e mulher que se preze não resiste a um modelo de Estado bem musculado, que entredentes parece segredar-lhe ‘vais fazer o que eu mando’. Estes novos modelos terão tudo para lubrificar o nosso motor contributivo.
Agora que penso nisso, vejo ainda aqui um cenário hipotético mas consistente: fase 1 — aprovação de benefícios fiscais para as famílias numerosas; fase 2 — aprovação do matrimónio entre casais homossexuais; fase 3 — reprovação de possibilidade de adopção para casais homossexuais. Ou seja, e em palavras curtas e grossas, os gays que paguem a crise! tem tudo para valer uns votos fundamentalistas… Mas isto sou eu a delirar com filosofias pré-socráticas.
Dê por onde der, lembra-me aquele princípio sempiterno de Lavoisier que agora não é para aqui chamado. Por isso, inventei outro: ou fecundamos, ou estamos bem fecundados.
PS (nunca mais!) — Sei que abusei. Mas é o Governo que me inspira a fazê-lo. Peço desculpa por ele.