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Há uma extraordinária doença da literatura que é a obsessão pela literatura. Conhecer pessoas que apenas se interessam por literatura é das experiências mais penosas que há; mas quando isso se transforma em obsessão, é doentio e uma descida aos infernos. Portugal conhece o problema todos os anos por altura do 25 de Abril, creio que no 10 de Junho e, por extensão, no Festival da Canção: é quando toda a gente se põe a citar versos, estrofes, às vezes poemas inteiros e geralmente sem o mínimo respeito pelos textos, pelos autores e pelos ouvintes. No caso do 25 de Abril já não suporto a utilização abusiva do “dia inicial inteiro e limpo” (pobre Sophia, que escreveu outros belos poemas) nem de qualquer um dos fragmentos de poemas usados por deputados ou altas figuras da nação, presidentes de junta, locutores de rádio, utilizadores do Instagram, oradores do Minho ao Alentejo ou rodapés das televisões. Toda essa poesia não impede que a piroseira continue a ser tão insuportável como antes.
Da coluna diária do CM.
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