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Picasso, o patife.

por FJV, em 10.04.23

O The Guardian quis ouvir a opinião de comissários, críticos, curadores e artistas sobre Picasso. Alguns valorizaram o facto de o autor de Guernica ter sido um patife para as mulheres, mesmo que reconheçam que é um grande pintor. Mas a mácula está lá e o jornal pergunta se, 50 anos depois da sua morte, não estará na altura de o guardar em naftalina. Como se o mundo tivesse nascido ontem, há pessoas que descobrem, com espanto cómico, que o passado da arte, da filosofia, da literatura, está cheio de indignidades e pecadilhos. Oh, horror, houve artistas machistas e teólogos misóginos. E Picasso, ai de nós, estava cheio de “masculinidade machista e vigorosa”, além de a sua vida estar marcada por uma “notória crueldade e misoginia”. Mais: a obra de Picasso só foi possível graças às mulheres: “esposas e amantes que cuidaram dele e organizaram sua vida” e, claro, “modelos e musas que preenchem suas pinturas”. Nem a naftalina nos salva. A justiça que descobre que existiu pecado é apenas cínica.

Da coluna diária do CM.

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Concorrência à agonia.

por FJV, em 10.04.23

No sábado viajei de Lisboa para o Porto de manhã e voltei à noite. Com a idade, a falta de paciência, as estradas cheias de loucos, o excesso de carros por todo o lado e o preço da gasolina, deixei de fazer estas viagens ao volante. Faço-o por puro comodismo, não para salvar o planeta: sou neto de ferroviário, escrevi um livro sobre comboios e acho que o que distingue as pessoas e os países civilizados é terem comboios confortáveis e de confiança. Ora, a CP, remendada, aldrabada e com um desprezo fatal pelos passageiros, está também esburacada por greves e supressões de comboios; no sábado não havia comboio à hora normal, o da noite desapareceu e domingo de manhã seria caótico. Fui de camioneta. Custou 20€ (ida e volta, ou seja, quase um terço do preço da ferrovia), cheguei a horas, parti a horas, havia wi-fi muito decente, parámos 5 minutos a meio, demorou 3 horas e 15. Não é a mesma coisa que o comboio, claro, nem tão ecológico. Mas é isto: a CP agoniza, ninguém parece importar-se.

Da coluna diária do CM.

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