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Numa sociedade hiperssexualizada e histérica com a relação entre o sexo e a política, o escândalo dos abusos sexuais na igreja é como lava a descer do vulcão: leva tudo à volta porque se exige à igreja uma dignidade que o mundo perdeu há muito. Bom, foi isso que a igreja quis ser: uma excepção. Não é – mas é essa a sua matriz. A indignação presidencial abriu as portas para que a indignação banal se tornasse numa espécie de ‘grau zero’; doravante, tudo o que é menos do que isso (como este texto) corre o risco de estar na margem do condenável. Abusar de crianças é um crime abjeto e já aqui escrevi sobre o comportamento condenável de declarações da igreja ou de alguns dos seus bispos. Há 40 anos, pessoas como Sartre, Roland Barthes, Jack Lang, Louis Aragon, Jacques Derrida ou Michel Foucault – o estrelato da “vida intelectual” francesa, os mandarins – pediam a absolvição de pedófilos e a descriminalização da pedofilia. Nenhum destes nomes foi decapitado. O mundo muda devagar e depressa.
Da coluna diária do CM.
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