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Eu poderia falar das personagens femininas que aparecem nos romances de Agustina Bessa-Luís (de quem assinalamos o seu bravo centenário), Camilo, Eça, Lídia Jorge, Saramago, Maria Velho da Costa, Isabel Barreno, Carlos Oliveira, José Cardoso Pires – cada autor à sua maneira, mas talvez por esta ordem. Não apenas bondosas, românticas, tradicionais, “companheiras” (como diziam os machistas de esquerda), “esposas” de famílias silenciadas, domésticas e desenhadas a aguarela; pelo contrário, devastadoras, poderosas, rebeldes, perversas e dignas de tempestade. E poderosas de novo, sobreviventes, carregando séculos de resistência, trabalho, abnegação sem recompensa, sacrifício sem elogio. A questão não é “o género”; na vida prática é a justiça (punição severa e grave da violência, salários iguais – é assim tão difícil); na literatura, que foi o exemplo que dei, são os retratos que ficam: mulheres que todos os dias deixam uma marca em algum lado. E um dia não ser necessário falar disto nunca mais.
Da coluna diária do CM.
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