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Molière de novo.

por FJV, em 17.02.23

Passam hoje 340 anos sobre a sua morte. Tirando Shakespeare, nenhum autor me dá tanto prazer no palco como Molière (1622-1673), sobretudo as maravilhosas Escola de Mulheres, O Misantropo, O Avarento ou O Doente Imaginário, durante cuja interpretação viria a morrer. Uma das originalidades de Molière (Jean-Baptiste Poquelin, o seu nome verdadeiro) foi ter contrariado a solenidade da dramaturgia do seu tempo (Racine, La Fontaine ou Corneille), transportando a sátira mais diabólica para o palco. A sua linguagem era um prodígio de invenção, como uma torrente pronta para o riso e para enumerar os vícios humanos (tal como os tiques, medos, horrores, traumas e hipocrisias da época) e a mesquinhez, mais do que os mitos dourados e históricos. Tudo tão bem desenhado que ficávamos a amar as personagens mais ridículas (Don Juan, Tartufo, O Burguês Fidalgo, Cornudo Imaginário), que acabavam por enternecer-nos. Molière teve esse mérito, o de nos mostrar que não somos nem podemos ser virtuosos.

Da coluna diária do CM.

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