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Os leitores conhecem a história: a meio de uma peça de Almodóvar houve protestos porque uma personagem transsexual estava a ser interpretada por um homem não transsexual, coisa que acontece bastante no teatro. Seja como for, o protesto resultou, porque os protestos sobre sexo resultam quase sempre: o ator foi retirado do elenco e substituído por um ator transsexual, não sei se bom ou mau. Isso não me comove; mas preocupa-me a ideia de que uma pessoa só pode ser representada por uma pessoa idêntica; o romance de uma lésbica só pode ser traduzido por uma lésbica, um poema em língua ‘inuktitut’ só pode ser lido por inuítes da Gronelândia e uma história gay não pode ser escrita por um heterossexual, o que eu acho chato, reacionário e um tanto cavernícola. Isto é um pouco estranho porque, justamente, o teatro trata da usurpação de identidade. Nos protestos alguém disse que o teatro não é só “um palco”, ou seja, arte e representação, mas também “uma plataforma”, ou seja, um megafone. Deixam-me muito mais sossegado.
Da coluna diária do CM.
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