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Como todos os portugueses, a princípio estranhei – mas depois trauteei “Un portugais”, “o português emigrante”, “A Mala de Cartão”, a canção de Linda de Suza. Tudo estava lá, em música ou em surdina, visível ou escondido atrás de palavras banais, até a referência afrancesada “ao Portugal”, que fazia sorrir os tugas sobre o analfabetismo emigrante, as casas tipo-maisons, o linguajar de romaria – até que a “valise de carton” se tornou emblema, não apenas da sua voz, mas das vozes dos portugueses de França, como uma vingança sobre a pobreza e a maldição. A sua biografia é de filme (que existe, tal como livros biográficos e autobiográficos); a sua morte é triste como o final do ano e uma das suas canções, "La fille qui pleurait" (‘A rapariga que chorava’); a sua voz, estranhamente, ainda me arrepia às escondidas quando a lembro a cantar em dueto com Enrico Macias, o franco-argelino, ou admirada por Charles Aznavour, o arménio. A França amou-a e tornou-a um emblema pop (Jacques Chirac apadrinhou-a), em Portugal era tão emigrante como do outro lado da fronteira, uma extravagância que nunca adotou como sua.
Da coluna diária do CM.
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