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Há por certo uma razão para que Marcel Proust não tenha sido distinguido com o Nobel, esse prémio que hoje já não tem grande prestígio ou valor literário: apenas os quatro primeiros volumes do monumental Em Busca do Tempo Perdido (a Recherche, tradução portuguesa de Pedro Tamen) foram publicados em vida do autor; os restantes três apareceram em 1923 e 1927 – e, de facto, a anterior obra de Proust não o justificava. A Recherche não é propriamente “um romance”: são sete volumes de uma corrente interminável de literatura, exposição íntima, viagem interior, recordações, melancolia e dedicação ao que, antigamente, se designava por “o poder da palavra”. Proust, que morreu há exatamente 100 anos – assinalados hoje – é uma das grandes transfusões de energia para esse “poder da palavra” e a Recherche um dos seus maiores emblemas. A sua imagem pálida, frágil, doente, triste, com uma pose de penitente melancólico, é um dos símbolos desse tempo e dessa transformação do romance em torrente de recordações e pensamentos. Na história da literatura nunca mais seria possível voltar atrás.
Da coluna diária do CM.
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