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É impossível não sentir alguma comoção diante daquela escultura de Bernini (1598-1680), na igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma, imortalizando o célebre êxtase de Santa Teresa de Ávila (1515-1582, passam hoje 440 anos sobre a sua morte): o anjo contempla Santa Teresa, desmaiada, antes ou depois de a trespassar com a lança que segura com a mão direita. A fundadora das Carmelitas Descalças (ordem para que há de arrebatar São João da Cruz, seu cúmplice no grande terramoto místico do catolicismo sombrio da época) fala desse momento num texto maravilhoso que está no livro Seta de Fogo (Assírio & Alvim), traduzido por José Bento, mencionando “vir de algures, não se entende de onde nem como, um golpe, ou como se viesse uma seta de fogo”, ou “um raio, que num instante atravessa tudo o que acha de terreno na nossa natureza e o deixa feito em pó”. Perseguida e depois apenas permitida, Santa Teresa de Ávila, falava de uma religião interior, de êxtase, sofrimento e espiritualidade que nunca mais existiu. Podemos lê-la como um relâmpago – só possível em tempos sombrios.
Da coluna diária do CM.
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