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V.S. Naipaul (Vidiadhar Surajprasad Naipaul) nasceu há 90 anos em Trinidad e Tobago (1932-2018, Nobel em 2001, antes de o prémio perder todo o interesse) e é autor de alguns dos grande livros do nosso tempo, como A Curva do Rio, Num Estado Livre ou Uma Casa para Mr. Biswas. Antes do pós-colonialismo, do ressentimento e da hipocrisia política, Naipaul escrevia sobre o desenraizamento, o exílio, a perda, as sociedades que se tinham libertado da dominação colonial para serem submetidas por regimes despóticos – os seus personagens solitários, valentes, nostálgicos e discretos são miniaturas magníficas, preciosas. Em Metade da Vida passa por Moçambique quando os portugueses estão prestes a abandonar aquele país: “Nunca admirei tanto os portugueses como naquele momento.” Naipaul foi, como escritor, um repórter minucioso – e um autor desassombrado. Em Inglaterra, onde viveu, acusavam-no de ter “mau feitio” (um belo crime) e, depois, de ser racista (apesar de ter sofrido o racismo na pele) e de defender o colonialismo. Naipaul tinha mau feitio, sim. E era um grande, grande escritor.
Da coluna diária do CM.
Em Inglaterra, o Times fez um apanhado sobre a ameaça de censura nas universidades locais, e parece que um vendaval de tolice patológica tomou conta das faculdades de letras e do seu desejo de proteger o bem-estar dos alunos de ideias perniciosas, perturbadoras e ameaçadoras – que, naturalmente, vêm nos livros. O jornal conta que em 2022 houve mais de mil denúncias contra autores que, por serem maldosos, deviam ser censurados nas bibliotecas. Entre eles estão Charles Dickens, coitado, Jane Austen ou Shakespeare. Algumas bibliotecas universitárias retiraram livros de Colson Whitehead (recente prémio Pulitzer), por causa da sua descrição violenta da escravatura, A Menina Júlia, de Strindberg, por falar de suicídio, O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, por ser racista, Hemingway, por ser machista, ou títulos de Philip Larkin, por ser misógino. Nos EUA, por exemplo, a edição das obras de Kant tem uma nota aos estudantes para informar que as opiniões do filósofo “sobre raça, género, sexualidade e relações interpessoais” são “produto do seu tempo”. O Ocidente entregue aos ratos.
Da coluna diária do CM.
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