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Antes do verão usei um parque de estacionamento no centro de Lisboa e deparei com um aviso: o elevador que sobe à superfície está avariado, de modo que os srs. clientes façam o favor de se dirigir ao outro que os deixará piso e meio abaixo da superfície. Um pouco de ginástica só faz bem – mas eu estava com uma distensão muscular. Achei estranho que um parque (com pisos até ao -5) numa cidade que vive de turismo e de ocupação do centro tivesse um dos elevadores neste estado – para não falar do estado de sujidade em que se encontra. Passado mês e meio voltei – está na mesma. Os clientes habituaram-se, os turistas julgam que é azar e nós continuamos a usar o parque, naturalmente. Habituamo-nos. Aguentamos os primeiros três dias, a primeira semana; ao fim de quinze dias já ninguém se lembra e é assunto encerrado. Habituamo-nos às filas de espera, à falta disto, à falta daquilo, ao lixo na rua, aos rumores, às notícias que não são dadas. O que era exceção passou a ser estrutural, robusto – e resiliente. Claro que o país não é um elevador avariado. Porque já nos habituámos a não reparar.
Da coluna diária do CM.
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