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Seu Jorge, o outro.

por FJV, em 10.08.22

Comecei a ler Jorge Amado (1912-2001) como qualquer português letrado – sobretudo os seus primeiros livros até Capitães da Areia, como O País do Carnaval, Cacau ou Jubiabá, da década de 30. Era a fase comunista de Amado; não nos fez mal nenhum conhecer aquele universo de pobreza, injustiça e poesia (a de Mar Morto, por exemplo), cuja forma definitiva é o seu microcosmos de São Jorge dos Ilhéus (1944). Depois, veio a fase da recusa daquela velharia – de Amado, da sua influência e da aritmética tropical do realismo socialista. Tinha, porém, faltado a leitura de Gabriela (de 1958, que a televisão transformou com êxito), de Os Velhos Marinheiros (1961) ou do seu melhor romance, Dona Flor e os Seus Dois Maridos (1966, depois no cinema, com José Wilker e Sónia Braga, no filme de Bruno Barreto), puro prazer e malandrice, invenção danada e maravilhosa, que talvez lhe tenha permitido depois escrever Tieta do Agreste (1977) ou um belo romance sobre negritude, Tenda dos Milagres (1969). Com estas leituras, e com Jorge Amado (que tive a sorte de conhecer como um homem generoso, afável, com apetite) já distante da engenhoca política inicial (hoje, o seu Bahia de Todos os Santos, um guia de Salvador, está condenado a ir ao castigo dos radicais), era a redescoberta da faísca do seu talento. Passando hoje 110 anos sobre o seu nascimento, deixo-lhe aqui um abraço amistoso, seu Jorge.

Da coluna diária do CM.

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