Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Um fim de semana de verão que nos trouxe duas despedidas – a de Ana Luísa Amaral (1956), recordação da poesia, professora de literatura; e a de Jô Soares (1938), humorista de um tempo que já não pode rir-se à vontade. Sobre Ana Luísa (que está ligada à minha vida) já escrevi ontem: ela será sempre a luz de um relâmpago a iluminar a beleza. Jô Soares foi, como Rubem Fonseca ou Jorge Amado, um brasileiro que enriqueceu a nossa língua, tão aborrecida naqueles tempos dos anos 70 e 80, tão cheia de solenidades – recordamos todos os seus tiques, frases, personagens ou quadros de paródia. Os humoristas são essenciais à nossa vida (tal como os poetas). Os grandes, como Jô, inventaram o riso onde não estava nada, puseram-nos a duvidar da língua e das certezas. Brincam com o sexo e com a pátria; hoje, nestes tempos de censura, o seu humor seria perseguido. Escreveu romances em que parodiou o policial; era um homem culto, porque o grande humor precisa de grandeza. Brincou consigo próprio (o gordo), brincou muito com os portugueses. Uma grande arte, notável, a de brincar e de fazer rir.
Da coluna diária do CM.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.