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A última vez que falei com Ana Luísa foi em maio deste ano, quando me chegou O Olhar Diagonal das Coisas (Assírio & Alvim), o volume de 1400 páginas que reúne a sua poesia, de Minha Senhora de Quê (1990) até Mundo (2021) e onde estará sempre, luminosa, a escrita ainda clássica de Entre Dois Rios e Outras Noites (2008). O encontro anterior fora há um ano, numa espécie de congresso sobre “árvores e literatura”, logo depois de ter recebido o Prémio Reina Sofía, que lhe foi atribuído pela sua obra. Nada vinha mais a propósito: as árvores ensinam-nos aquele silêncio que muitas vezes vem na poesia e que, quase sempre, inclina a nossa vida para a contemplação. Depois, a notícia da doença – e tudo seria rápido demais, como sempre é; a recordação dos que deixam marca nunca é mais do que o brilho de um relâmpago. Passando os olhos pelos seus poemas, vêm lá esses relâmpagos. O da poesia inglesa (Blake, Dylan Thomas, Emily Dickinson), o de Camões, o de si mesma, o da sua melancolia. Brilhante, intuitiva, cultíssima nos estudos comparatistas de literatura, poeta maior, Ana Luísa Amaral será sempre esse relâmpago que mostra o caminho da beleza que fica como uma árvore que ainda não tem nome.
Da coluna diária do CM.
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