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Pascal.

por FJV, em 19.08.22

Passam hoje 360 anos sobre a morte de Blaise Pascal (1623-1662), que deixou importantes contribuições para a Matemática e a Física. E mudou também a nossa forma de pensar sobre o destino e a condição humana. Primeiro, porque viveu depois de Michel de Montaigne (1553-1592), cujos Ensaios são o modelo de pensamento posterior na Europa; depois, porque esses tempos da modernidade e do racionalismo permitiram inventar o conhecimento pessoal como uma das tarefas essenciais da humanidade como hoje a conhecemos. A experiência subjetiva (“o coração tem razões que a razão desconhece”) e o reconhecimento da fragilidade, do medo ou da intimidade, ou do lugar da religião, são matéria essencial do que Pascal deixou disperso nos seus Pensamentos. Montaigne refletiu sobre a ociosidade, a solidão e a arte de aprender a morrer; permitiu o aparecimento de um Pascal que lidou com os enigmas da matemática e com os da imaginação ou da ética pessoal, em simultâneo. Não seríamos como somos sem Pascal. 

Da coluna diária do CM.

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V.S. Naipaul, 90 anos.

por FJV, em 17.08.22

V.S. Naipaul, ganhador do Nobel de Literatura, morre aos 85 anos | Pop &  Arte | G1

V.S. Naipaul (Vidiadhar Surajprasad Naipaul) nasceu há 90 anos em Trinidad e Tobago (1932-2018, Nobel em 2001, antes de o prémio perder todo o interesse) e é autor de alguns dos grande livros do nosso tempo, como A Curva do Rio, Num Estado Livre ou Uma Casa para Mr. Biswas. Antes do pós-colonialismo, do ressentimento e da hipocrisia política, Naipaul escrevia sobre o desenraizamento, o exílio, a perda, as sociedades que se tinham libertado da dominação colonial para serem submetidas por regimes despóticos – os seus personagens solitários, valentes, nostálgicos e discretos são miniaturas magníficas, preciosas. Em Metade da Vida passa por Moçambique quando os portugueses estão prestes a abandonar aquele país: “Nunca admirei tanto os portugueses como naquele momento.” Naipaul foi, como escritor, um repórter minucioso – e um autor desassombrado. Em Inglaterra, onde viveu, acusavam-no de ter “mau feitio” (um belo crime) e, depois, de ser racista (apesar de ter sofrido o racismo na pele) e de defender o colonialismo. Naipaul tinha mau feitio, sim. E era um grande, grande escritor.

Da coluna diária do CM.

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O Ocidente.

por FJV, em 17.08.22

Em Inglaterra, o Times fez um apanhado sobre a ameaça de censura nas universidades locais, e parece que um vendaval de tolice patológica tomou conta das faculdades de letras e do seu desejo de proteger o bem-estar dos alunos de ideias perniciosas, perturbadoras e ameaçadoras – que, naturalmente, vêm nos livros. O jornal conta que em 2022 houve mais de mil denúncias contra autores que, por serem maldosos, deviam ser censurados nas bibliotecas. Entre eles estão Charles Dickens, coitado, Jane Austen ou Shakespeare. Algumas bibliotecas universitárias retiraram livros de Colson Whitehead (recente prémio Pulitzer), por causa da sua descrição violenta da escravatura, A Menina Júlia, de Strindberg, por falar de suicídio, O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, por ser racista, Hemingway, por ser machista, ou títulos de Philip Larkin, por ser misógino. Nos EUA, por exemplo, a edição das obras de Kant tem uma nota aos estudantes para informar que as opiniões do filósofo “sobre raça, género, sexualidade e relações interpessoais” são “produto do seu tempo”. O Ocidente entregue aos ratos.

Da coluna diária do CM.

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Os livros são uma coisa tola.

por FJV, em 16.08.22

Os livros, dizia Martin Amis, têm uma perigosa vantagem: estão abertos e disponíveis 24 horas por dia. Penso nisso a propósito do seu amigo Salman Rushdie, que sobreviveu ao atentado ordenado há 33 anos. E penso também em Sayyid Ataollah Mohajerani, que foi ministro iraniano da cultura entre 1997 e 2000 e a quem se deve alguma liberalização da vida intelectual do país ou a autorização para a imprensa reformista. É um homem culto. Mas é também o autor de um livro em que defende a ‘fatwa’ do aiatola Khomeini (repetiu essa defesa há pouco tempo), que considera “uma vacina” – curiosamente, vive não num dos treze países que proibiram a edição e a leitura de Versículos Satânicos, mas em Londres, perto da casa onde Rushdie esteve escondido durante anos. No livro, Mohajerani (que foi presidente do Centro para o Diálogo entre as Civilizações) não cita apenas teologia islâmica ou a tradição do zoroastrismo (a antiga religião persa), mas também os Provérbios ou o Livro de Job da Bíblia. Nas bibliotecas vai buscar justificação para o assassínio. Os livros são uma coisa perigosa, como se vê.

Da coluna diária do CM.

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Um elevador.

por FJV, em 15.08.22

Antes do verão usei um parque de estacionamento no centro de Lisboa e deparei com um aviso: o elevador que sobe à superfície está avariado, de modo que os srs. clientes façam o favor de se dirigir ao outro que os deixará piso e meio abaixo da superfície. Um pouco de ginástica só faz bem – mas eu estava com uma distensão muscular. Achei estranho que um parque (com pisos até ao -5) numa cidade que vive de turismo e de ocupação do centro tivesse um dos elevadores neste estado – para não falar do estado de sujidade em que se encontra. Passado mês e meio voltei – está na mesma. Os clientes habituaram-se, os turistas julgam que é azar e nós continuamos a usar o parque, naturalmente. Habituamo-nos. Aguentamos os primeiros três dias, a primeira semana; ao fim de quinze dias já ninguém se lembra e é assunto encerrado. Habituamo-nos às filas de espera, à falta disto, à falta daquilo, ao lixo na rua, aos rumores, às notícias que não são dadas. O que era exceção passou a ser estrutural, robusto – e resiliente. Claro que o país não é um elevador avariado. Porque já nos habituámos a não reparar.

Da coluna diária do CM.

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O almanaque das expulsões.

por FJV, em 12.08.22

O livro que impulsionou os Descobrimentos está de regresso a Leiria –  Região de Leiria

Não é por Tomar, onde existe o Museu Abraão Zacuto, que devemos começar – mas por Leiria, onde em 1496 se imprimiu o seu Almanach perpetuum, (Almanaque Perpétuo dos Movimentos Celestes, título latino), instrumento fundamental para as navegações da época. Antes disso, o almanaque fora escrito em hebraico e as suas tabelas astronómicas terão servido a Vasco da Gama para, na viagem de 1497, enfrentar os mares até à Índia. Recuemos a Salamanca, 1452, data do nascimento do autor, Abraão Zacuto, que aí estudou astronomia depois de passar pelo filtro tradicional da erudição judaica: a Bíblia, o Talmude e a Cabala. A origem dos Zacuto é francesa; foi de lá que fugiram para Espanha; e foi de Espanha que fugiram para Portugal depois do decreto de expulsão dos judeus em 1492. Abraão, que já ensinara em várias universidades, foi astrónomo de D. João II e seria também de D. Manuel – que expulsa os judeus em 1496; Zacuto vai para Tunes e, de lá, para Jerusalém e Damasco, onde morre em 1515. Passam hoje 570 anos sobre o nascimento de Abraão Zacuto. Expulsamos demasiada gente que nos fez falta.
Da coluna diária do CM.

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Seu Jorge, o outro.

por FJV, em 10.08.22

Comecei a ler Jorge Amado (1912-2001) como qualquer português letrado – sobretudo os seus primeiros livros até Capitães da Areia, como O País do Carnaval, Cacau ou Jubiabá, da década de 30. Era a fase comunista de Amado; não nos fez mal nenhum conhecer aquele universo de pobreza, injustiça e poesia (a de Mar Morto, por exemplo), cuja forma definitiva é o seu microcosmos de São Jorge dos Ilhéus (1944). Depois, veio a fase da recusa daquela velharia – de Amado, da sua influência e da aritmética tropical do realismo socialista. Tinha, porém, faltado a leitura de Gabriela (de 1958, que a televisão transformou com êxito), de Os Velhos Marinheiros (1961) ou do seu melhor romance, Dona Flor e os Seus Dois Maridos (1966, depois no cinema, com José Wilker e Sónia Braga, no filme de Bruno Barreto), puro prazer e malandrice, invenção danada e maravilhosa, que talvez lhe tenha permitido depois escrever Tieta do Agreste (1977) ou um belo romance sobre negritude, Tenda dos Milagres (1969). Com estas leituras, e com Jorge Amado (que tive a sorte de conhecer como um homem generoso, afável, com apetite) já distante da engenhoca política inicial (hoje, o seu Bahia de Todos os Santos, um guia de Salvador, está condenado a ir ao castigo dos radicais), era a redescoberta da faísca do seu talento. Passando hoje 110 anos sobre o seu nascimento, deixo-lhe aqui um abraço amistoso, seu Jorge.

Da coluna diária do CM.

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Larkin, cem anos.

por FJV, em 09.08.22

Não é um poeta fácil, mas seria indesculpável deixar passar em silêncio o centenário do nascimento do inglês Philip Larkin (1922-1985), um dos meus autores mais celebrados e certamente um dos poetas mais lidos ou conhecidos em Inglaterra. Associo-o quase sempre a Yeats ou W.H. Auden – dois grandes –, mas a tristeza e a melancolia de Larkin são maiores, vagueiam como uma música (foi crítico de jazz do Telegraph, e alguns dos seus textos são comoventes), importunam como a chuva num dia de outono, ou a dificuldade de encontrar uma palavra feliz para dizer entre “os jardins de sombras oblíquas” a meio da madrugada. A poesia de Larkin vagueia como um diálogo sobre a fealdade das coisas, procurando o retrato fiel, familiar, íntimo, cru, solitário, obsceno muitas vezes. Recentemente, a crítica tem sido pouco amável, descobrindo na penumbra sinais de racismo e misoginia; mas nada apaga a beleza de dois livros traduzidos em Portugal – o romance Uma Rapariga do Inverno, traduzido por Ana Maria Chaves, e a coletânea de poemas Janelas Altas, traduzida por Rui Carvalho Homem. Um dos grandes.

Da coluna diária do CM.

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Humor e poesia.

por FJV, em 08.08.22

Um fim de semana de verão que nos trouxe duas despedidas – a de Ana Luísa Amaral (1956), recordação da poesia, professora de literatura; e a de Jô Soares (1938), humorista de um tempo que já não pode rir-se à vontade. Sobre Ana Luísa (que está ligada à minha vida) já escrevi ontem: ela será sempre a luz de um relâmpago a iluminar a beleza. Jô Soares foi, como Rubem Fonseca ou Jorge Amado, um brasileiro que enriqueceu a nossa língua, tão aborrecida naqueles tempos dos anos 70 e 80, tão cheia de solenidades – recordamos todos os seus tiques, frases, personagens ou quadros de paródia. Os humoristas são essenciais à nossa vida (tal como os poetas). Os grandes, como Jô, inventaram o riso onde não estava nada, puseram-nos a duvidar da língua e das certezas. Brincam com o sexo e com a pátria; hoje, nestes tempos de censura, o seu humor seria perseguido. Escreveu romances em que parodiou o policial; era um homem culto, porque o grande humor precisa de grandeza. Brincou consigo próprio (o gordo), brincou muito com os portugueses. Uma grande arte, notável, a de brincar e de fazer rir.

Da coluna diária do CM.

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Uma árvore para Ana Luísa.

por FJV, em 07.08.22

Floresta de carvalhos de outono com um caminho largo | Foto Premium

A última vez que falei com Ana Luísa foi em maio deste ano, quando me chegou O Olhar Diagonal das Coisas (Assírio & Alvim), o volume de 1400 páginas que reúne a sua poesia, de Minha Senhora de Quê (1990) até Mundo (2021) e onde estará sempre, luminosa, a escrita ainda clássica de Entre Dois Rios e Outras Noites (2008). O encontro anterior fora há um ano, numa espécie de congresso sobre “árvores e literatura”, logo depois de ter recebido o Prémio Reina Sofía, que lhe foi atribuído pela sua obra. Nada vinha mais a propósito: as árvores ensinam-nos aquele silêncio que muitas vezes vem na poesia e que, quase sempre, inclina a nossa vida para a contemplação. Depois, a notícia da doença – e tudo seria rápido demais, como sempre é; a recordação dos que deixam marca nunca é mais do que o brilho de um relâmpago. Passando os olhos pelos seus poemas, vêm lá esses relâmpagos. O da poesia inglesa (Blake, Dylan Thomas, Emily Dickinson), o de Camões, o de si mesma, o da sua melancolia. Brilhante, intuitiva, cultíssima nos estudos comparatistas de literatura, poeta maior, Ana Luísa Amaral será sempre esse relâmpago que mostra o caminho da beleza que fica como uma árvore que ainda não tem nome.

Da coluna diária do CM.

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Chavela Vargas.

por FJV, em 05.08.22

Eu me chamo Chavela Vargas. Não se esqueçam do meu nome” | Cultura | EL  PAÍS Brasil

Na vida mexicana, Chavela Vargas (1919-2012) nunca precisou de anunciar a sua sexualidade para se perceber o essencial: era lésbica, vestia-se como homem, murmurava-se do seu namoro com Frida Khalo (e Ava Gardner) e tinha uma voz incomparável. Em 1995 quis ouvi-la num bar em Coyoacán, na Cidade do México, onde decidiu que ia regressar à música depois de uma descida aos infernos do álcool; ouvir as suas rancheras e boleros era regressar às origens: José Alfredo Jimènez, Cuco Sanchez ou Agustín Lara, clássicos que a apadrinharam. A sua voz áspera e arrependida a cantar ‘Llorona’ ou ‘Paloma Negra’ ecoava por todos os pátios do México. Porém, Chavela Vargas, que foi amiga de Juan Rulfo, Picasso ou García Márquez, era mais do que uma cantora de rancheras – era o álcool, a alma perdida, o excesso de todos os seus demónios sobre um bando de mariachis. Nos seus últimos anos foi redescoberta (em parte, graças aos filmes de Almodóvar) como uma grande dama da canção. Passam hoje dez anos sobre a sua morte, em Cuernavaca, a terra onde se passa Debaixo do Vulcão, o livro de Malcolm Lowry.

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Norma Jeane.

por FJV, em 04.08.22

Cuba lembra Marilyn Monroe com exposições e cinema | Exame

Chegados aqui é preciso concordar no seguinte: Norma Jeane Baker (1926-1962) não era uma grande atriz. Como cantora, aquela voz foi sempre perversamente adolescente. Em Clash by Night (1952), um filme de Fritz Lang em que contracena com Barbara Stanwyck, podia ter escolhido aquela saída interpretando papéis dramáticos e “sérios” – como o seu derradeiro filme, Os Inadaptados, de John Huston, com Clark Gable e Montgomery Clift, num argumento do seu marido, Arthur Miller. Mas recordamo-la sobretudo em Como Se Conquista Um Milionário, O Pecado Mora ao Lado, e Quanto Mais Quente Melhor – ou a cantar os parabéns a JFK três meses antes de ter sido encontrada morta por overdose. Tudo o resto, sabemos: as suspeitas sobre a morte, a vida de adolescente, o início da carreira, os casos amorosos. Mas nada lhe retira um grão de beleza – aliás, o maior ícone de beleza e de sensualidade no século passado. Marilyn Monroe morreu há 60 anos e continuamos suspensos desse “grão de beleza” que nos devolve tanto a sua imagem de inocência perversa como de atrevimento e perdição permanentes.

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Os portugueses – quem vê, um vê todos,

por FJV, em 03.08.22

Além de racistas e xenófobos, como ontem não se cansavam de dizer, os portugueses – esta gente à nossa volta – são também, e passo a enumerar, pessoas preguiçosas, honradas, loiras, de ascendência africana, gordas, complacentes, generosas, praticantes de umbanda, benfiquistas, angustiadas, diabéticas, de pernas esculturais, de pele branca, com seios generosos, de ascendência paquistanesa, de cabelo frisado, sem bigode, com barbas hirsutas, de tornozelos finos, calvas, saudáveis, fanáticas de atletismo, que gostam de receber os estrangeiros, sportinguistas, demasiado descuidadas ao volante, com gosto pela comida, magras, com problemas de dioptrias, de ascendência ostrogoda e vagamente celta, boas nadadoras, fracas futebolistas, fraquíssimas em economia, de rabos elegantes e bíceps controversos, que não gostam de bacalhau, que usam bigode, de ascendência macaense ou goesa, portistas, apreciadoras de quinoa e cabidela, mentirosas, preocupadas, morenas, doutoradas em engenharia, que gostam de cantar sevilhanas e detestam fado. Amanhã podemos continuar. Isto quem vê um vê todos, não é?

Da coluna diária do CM.

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Estruturais, tão estruturais que somos.

por FJV, em 02.08.22

Houve um tempo em que os linguistas se ocupavam também de filologia e faziam a história das palavras – também era a época em que as pessoas se preocupavam com a elegância e a correção das suas frases e não apenas com a sua “eficácia”. A “eficácia” é um conceito demasiado sensível, porque não depende de nenhuma gramática, de nenhum sentido, de nenhum respeito pelas palavras. O objetivo é conseguir determinado efeito. Com o analfabetismo reinante e desculpado (e muitas vezes valorizado), o uso de palavras como “resiliência”, “robusto”, “evidência (científica)” leva a que seguidores compenetrados e servis usem a mesma linguagem e a repliquem – apreciam ser identificados como parte do exército que usa aquele dicionário truncado. Depois de o primeiro-ministro ter usado a expressão “problemas estruturais” para mencionar aqueles que só iria resolver depois de setembro, multiplicou-se o uso de “estruturais”. Está a ser uma epidemia de coisas “estruturais”, com o repenicar do beicinho muito volátil, a dizer: “Eu já aprendi, eu já sei fazer coisas estruturais.” A tolice tem certa resiliência.

Da coluna diária do CM.

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Ler Vidal em Agosto, enquanto os políticos portugueses posam no areal.

por FJV, em 01.08.22

Em agosto, os políticos vão de férias e “aproveitam o tempo” para ler alguns livros (que não leem durante o ano) de que dão público conhecimento para saibamos como são “os seus interesses”, as suas “preocupações” e o nível do seu “endividamento cultural”. Lembrei-me disso porque vi as listas de leitura de alguns deles (no Público), cheias de atualidade ou de virtude – e porque ontem passavam 10 anos sobre a morte de Gore Vidal, um dos grandes autores americanos do final do século XX (os outros são Updike, Bellow, e talvez Roth e Mailer). As duas coisas não têm ligação; Gore Vidal (1925-2012) é puro génio, elegância e pontaria, autor de um ciclo de sete romances (Narrativas do Império) que é bom ler para compreender a América, mas também de Juliano e Myra Breckinridge, e de alguns ensaios luminosos. Já as escolhas dos nossos políticos são o que são – ou sinceras ou música de baile, mas não os ajudarão muito. Vidal, cáustico, e pessimista, via o mundo repleto de lixo, barbárie e vulgaridade, assistindo ao fim de uma civilização; infelizmente, tinha razão. São os dois caminhos.

Da coluna diária do CM.

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