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Em maio de 1928, o poeta Oswald de Andrade publicou o Manifesto Antropofágico e com isso começou a cultura brasileira; a “antropofagia cultural” não defendia o canibalismo em si mesmo – mas que se devorasse tudo o resto: na música, pintura, literatura, cozinha, moda, o que fosse. Deglutir o que nos é estranho, usar o que é dos outros, desde as tranças no cabelo aos ingredientes da sobremesa. Essa foi a génese da modernidade, que hoje enfrenta uma barulhenta e decidida vaga reacionária que luta contra a “apropriação cultural”, encabeçada por indigenistas e nacionalistas. Não são criadores nem pessoas ousadas e livres; no mundo da cultura, são uma espécie de fiscais que controla a licença de isqueiro, como no tempo do fascismo. Esta pobre gente inculta mas com berraria, acha que a posta mirandesa só pode ser comida em Sendim, que os piercing dos ianomani só podem ser usados na Amazónia e que o cérebro só pode ser usado longe deles. Uma das coisas que ignoram é que tranças frisadas se usavam no Mediterrâneo há mais de 2000 anos, mas isso é um pormenor para o seu exibicionismo flibusteiro.
Da coluna diária do CM.
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