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No seu derradeiro livro, Coisas Que Eu Sei (Oficina do Livro), publicado em maio do ano passado, Maria de Lourdes Modesto (1930-2022) lamenta que estejam a desaparecer as memórias da cozinha portuguesa e declara que “o risco de desfiguração e perda se tornou superlativo”. Ao longo dos últimos 50 anos, preocupou-se em divulgar, proteger e clarificar essa herança cultural transmitida nas nossas cozinhas – ela sabia que a principal fonte dessa tradição eram os fogões domésticos onde nascia um sistema que juntava paladar, história económica e social, geografia, biologia e sensatez. Esse último livro é um modelo de precisão, simplicidade e gosto. Só isso permite que a receita de ovos Bénédictine, por exemplo, tenha apenas três linhas e meia; nada mais. O seu Cozinha Tradicional Portuguesa (1981) continuará a ser uma referência monumental; mas o que permanece, e não se deve desprezar, é esse ideal de sensatez e descoberta que trouxe para a nossa mesa, relembrando o que construiu os grandes sabores das nossas vidas. Num mundo de exibicionistas, ela foi uma Grande Dama discreta e sábia.
Da coluna diária do CM.
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