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Agora, que se fala muito em cancelamento e censura, ou em reavaliação da história, recordo apenas que a onda de maluquinhos já vem de há muito, e sempre em nome de excelentes causas. Ninguém se recorda hoje mas, em março de 1983, o jornal francês Libération (um porta-voz dessa espécie) propôs que a ministra dos Direitos da Mulher (no 3.º governo socialista de Mitterrand-Mauroy, e na sequência da sua lei anti-sexista), colocasse no índex o Pantagruel, de Rabelais, As Neves de Kilimanjaro, de Hemingway, Judas, o Obscuro, de Thomas Hardy, toda a obra de Kafka, a poesia de Baudelaire e, claro, Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Porquê? “Provocação pública e ódio sexista.” Toda a obra de Kafka e Baudelaire? Flaubert? Convém lembrar que a sanha persecutória que hoje é praticada pelas boas consciências progressistas tem raízes profundas na história dos seus desejos. A ministra não acedeu (Mitterrand não deixou); mas é bom saber que certas almas defendiam um mundo que não podia ler Kafka, nem Baudelaire, nem Flaubert, nem Hardy ou Hemingway, entre outros. Ontem como hoje.
Da coluna diária do CM.
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