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Em França, 60% da população urbana sentiu-se “surpreendida” com o silêncio durante os confinamentos da pandemia, mas grande parte já não sabia viver com ele. O silêncio é um luxo destes tempos. Li, com atraso, o belo livro de Jean-Michel Delacomptée, Pequeno Elogio dos Amantes do Silêncio (de 2011), onde o ensaísta prevê que o silêncio esteja “em vias de extinção”. Uma abundância generosa e brutal de telemóveis (e de conversas que somos obrigados a ouvir), altifalantes, ruído de camiões e de obras, falta de graciosidade e cuidado nos transportes, aparelhos de televisão sempre ligados, auriculares perpetuamente conectados – tal é o nosso estado de saturação auditiva. Não se compreende que grande parte das praias semi-urbanas, por exemplo, seja inundada por colunas de som agressivas que vomitam “música” quando só queremos ouvir o mar ou o pregão de batatas fritas e bolas de Berlim – e que haja câmaras municipais a autorizar ou patrocinar esse ruído criminoso, como se o verão autorizasse os grunhos a estragar-nos o repouso. O silêncio é um luxo; democratizá-lo é uma obrigação pública.
Da coluna diária do CM.
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