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Ninguém tem de concordar com as suas opiniões ou leituras do mundo para chegarmos ao essencial: Paula Rego é sem dúvida uma das pintoras mais geniais do nosso tempo e não devia ser permitido morrer sem ver alguns dos quadros representativos da sua obra – onde é provável que entremos todos (ou não) pela porta entreaberta, associando-nos aos fantasmas e aos abismos dessas telas, assustando-nos ou comovendo-nos, nunca tomando nada por certo. Boa parte da sua pintura denuncia o preconceito, a condição da mulher, as formas de dominação sexual e social na vida portuguesa; fá-lo inventando um mundo próprio ou fantasiando a sua inversão. E é genial, no verdadeiro sentido da palavra, como o foram Vermeer, Bosch ou Gentileschi. Seria fácil elaborar uma lista das suas vinte melhores obras porque há um contínuo de estranhamento, contorção e prevaricação nesse trabalho que é um derradeiro esforço para manter a dimensão figurativa na pintura, ao lado de nomes como Lucian Freud ou Francis Bacon, mas centrando-a no lugar do feminino. Paula Rego faz parte desse pódio, levando consigo peças como ‘A Dança’ e ‘A Família’, em primeiro lugar, ‘O Anjo’, ‘Olhando para trás’, ‘Mãe’, ‘A prova’, ‘Agonia no Horto’, ‘O cadete e a irmã’, as Brancas de Neve, bem como as séries Mulher-Cão ou Avestruzes, por exemplo – escolhas ditadas pela traição da memória. A cada dia descobriremos que Paula Rego, afinal, não morreu.
Da coluna diária do CM.
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