Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Outro dia enganei-me. Cometi a distração no prefácio a um divertido livro de Ramalho Ortigão: escrevi “Vila do Conde” e, depois, pumba, “onde nascera Eça”. Acontece que Eça nasceu ao lado, na Póvoa de Varzim, e dias depois batizado em Vila do Conde. Devo ter escrito a expressão “Eça nasceu” numa dezena de textos e, depois, “Póvoa de Varzim” – exceto desta vez. Amigos da Póvoa brincaram (prometeram cortar-me as provisões de arroz de linguado na petisqueira A Barca) e eu também – fui condenado a afixar uma lápide junto da simpática igreja matriz de Vila do Conde: “Aqui foi batizado Eça de Queirós.” O que me leva a perguntar: se um escritor nasceu em determinado lugar, esse lugar fica melhor? Não necessariamente, se bem que os lugares, mais tarde ou mais cedo, fiquem colados à pele. Joyce detestava Dublin, que detestava Joyce, mas quando passeio por Dublin lembro-me de Joyce. Camilo, que nasceu em Lisboa, é considerado “um escritor do Porto”, cidade que destratou com aplicação e paixão. Claro que era pior se tivesse escrito “Póvoa do Varzim”, mas eu tenho cuidado com a língua.
Da coluna diária do CM.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.