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De Aurélia de Sousa (1866-1922), sobre cuja morte passam hoje cem anos, lembro-me bem da primeira vez que vi aquele auto-retrato (datado de 1900) no Museu de Soares dos Reis, no Porto – um misto de melancolia (é a primeira palavra que me ocorre), tristeza, fragilidade, doença, severidade, abandono e, também, uma aura de beleza que não encontra lugar. Desde aí vivi uma espécie de “mistério de Aurélia de Sousa”: o nascimento no Chile (conservou sempre essa segunda nacionalidade), o seu desejo de independência (talvez esse tenha sido o primeiro passo para viver sozinha o resto da vida, sem vida conjugal conhecida), a forma como os seus retratos capturam o olhar do retratado, os ambientes familiares da sua pintura, uma certa discrição e um gosto controverso pelas formas mais clássicas, o talento enormíssimo, a escolha do Porto e da casa de família para viver, a abertura à fotografia, o modo como recusou favores das academias do seu tempo. Aurélia é uma das grandes presenças da nossa pintura, uma visitação da beleza e uma celebração discreta da solidão. Lembrá-la neste dia é uma obrigação.
Da coluna diária do CM.
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