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Rendeiro.

por FJV, em 17.05.22

O imbróglio em que a justiça portuguesa ardeu à vista de todos no “caso João Rendeiro” nunca será desatado. Há demasiadas coisas envolvidas. Provavelmente não temos cinema e talvez não tenhamos literatura capazes de transcrever o emaranhado de ilusões, charadas – sem mencionar os roubos, ilegalidades e quejandos – que transviaram esta personagem de tragédia. Depois da morte há um certo pudor, é verdade, mas nenhum dos crimes cometidos por Rendeiro deixaram de ser cometidos. O que já foi dito é suficiente para condená-lo, mas há nele suficiente material de farsa e de lição. Por um lado, Rendeiro é obra do regime que ele próprio ajudou a erguer; por outro, é vítima do abandono a que foi sujeito depois das suas escolhas e dos seus erros. Tudo nele é embuste: as operações bancárias duvidosas, a “arte contemporânea”, o dinheiro oculto, a mania das grandezas, os favores na prisão, a fuga do país. Vergonhosamente, “o regime que ele próprio ajudou a erguer” respira de alívio. Tal como não mostrava nenhum sentido da realidade, também já não tinha nada que pudesse ser útil ao passado recente.

Da coluna diária do CM.

 
 

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