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Em 1384 páginas, O Olhar Diagonal das Coisas (Assírio & Alvim) apresenta a poesia completa de Ana Luísa Amaral, que no ano passado recebeu o Prémio Rainha Sofia. De Minha Senhora de Quê (1990) até Mundo (2021), passando por obras tão significativas como Às Vezes o Paraíso (1998), Se Fosse um Intervalo (2009), Escuro (2014) ou Entre Dois Rios e Outras Noites (2008), por quem tenho especial ternura, a poesia de Ana Luísa espalha-se como um rio, uma penumbra (nunca uma sombra) entre as árvores – soa como uma frase perfeita, não porque procure um efeito, mas porque é feita de duas sabedorias: uma, a da poesia em si mesma, porque nada, nenhum verso é totalmente inocente ou ignora as regras da música; outra, a do amor, tão obscura e tão evocativa da grande poesia do mundo (de Blake a Dylan Thomas, sim, mas também dos clássicos da arte do soneto, como Camões – onde se aprende verso perfeito). “Tive um espelho em criança,/ que me lembrava um rio.” Às vezes são poemas assim, como os de Ana Luísa Amaral, que dão sentido à nossa vida. “E sou quase completa nessa/ imperfeição.”
Da coluna diária do CM.
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