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O lóbi das armas nos EUA inventou agora um novo argumento: o problema não são as armas mas a “saúde mental” dos americanos. Moral da história: abusados na infância, vítimas de violência doméstica e familiar, vários anos entre divórcios dos pais, excesso de hambúrgueres e de sexo na televisão e na internet, os adolescentes americanos pegam em armas e desatam a disparar sobre os avós e os colegas ou crianças nas escolas. À distância, porque isto não se passa na nossa cidade, é o que podemos descrever com ironia macabra. Mas a verdade é que não só a democracia americana fica refém dos pistoleiros (como escreveu Eduardo Dâmaso no CM de ontem), como a nossa reação à tragédia é a de latir como um cão de Pavlov: sim, coitado, passou mal e tem um trauma de infância ou adolescência, é necessário “compreendê-lo”. Eu não entendo e certamente os leitores também não vão na cantiga da psicologia barata. Mas o acesso às armas é o verdadeiro problema. Um país onde um cidadão pode ter em casa armamento de guerra não é decerto saudável. Esse é, desde logo, o grande problema americano de saúde mental.
Da coluna diária do CM.
De Aurélia de Sousa (1866-1922), sobre cuja morte passam hoje cem anos, lembro-me bem da primeira vez que vi aquele auto-retrato (datado de 1900) no Museu de Soares dos Reis, no Porto – um misto de melancolia (é a primeira palavra que me ocorre), tristeza, fragilidade, doença, severidade, abandono e, também, uma aura de beleza que não encontra lugar. Desde aí vivi uma espécie de “mistério de Aurélia de Sousa”: o nascimento no Chile (conservou sempre essa segunda nacionalidade), o seu desejo de independência (talvez esse tenha sido o primeiro passo para viver sozinha o resto da vida, sem vida conjugal conhecida), a forma como os seus retratos capturam o olhar do retratado, os ambientes familiares da sua pintura, uma certa discrição e um gosto controverso pelas formas mais clássicas, o talento enormíssimo, a escolha do Porto e da casa de família para viver, a abertura à fotografia, o modo como recusou favores das academias do seu tempo. Aurélia é uma das grandes presenças da nossa pintura, uma visitação da beleza e uma celebração discreta da solidão. Lembrá-la neste dia é uma obrigação.
Da coluna diária do CM.
Chegados a este ponto devemos fazer uma pequena evocação de Enrico Berlinguer (1922-1984), o histórico líder do partido comunista italiano sobre cujo nascimento passam hoje 100 anos. Contra os partidos da órbita soviética, como o PCP, Berlinguer defendeu o pluralismo, o compromisso histórico e uma certa afabilidade na política. Os comunistas portugueses de hoje, formados na admiração romântica pela ditadura da URSS (está aí o sacerdócio arcebispal de Jerónimo de Sousa), não tiveram de empunhar as bandeiras da liberdade cultural, da democracia política, da soberania e da defesa da autonomia. Foi Berlinguer, líder entre 1972 e 1984, que o fez, cortando as amarras entre o PCI e o Kremlin. Fê-lo em nome de todos esses valores (não à socapa mas na URSS, em 1969, criticando a invasão soviética da Checoslováquia no ano anterior), acrescentando depois que se sentia “mais seguro na NATO” do que sob as tropas de Moscovo e do Pacto de Varsóvia. Na Itália da época, cercada pelo terrorismo das Brigadas Vermelhas, o seu “eurocomunismo” não sobreviveu. Mas a sua coragem histórica deve ser celebrada.
Da coluna diária do CM.
O reforço da agressão russa na Ucrânia é um desafio para a Europa, que não gosta de ser desafiada. É um reforço de crueldade, frieza, indiferença e ameaça. Não admira; a reação europeia é moderada pelo peso da opinião pública que, nos últimos setenta anos, esqueceu a crueldade da guerra – o mais próximo que lhe associa são as escaramuças urbanas, os ataques terroristas e, recentemente, a guerrilha das redes sociais. O grau de destruição e barbárie testemunhado por António Costa, que emocionou o primeiro-ministro, é apenas a primeira vaga da campanha russa, que já há muito detetou as fragilidades europeias: as democracias são vagamente solidárias, mas muito dadas ao espectáculo e ao conforto que agradecemos desde os anos 70. Ao contrário, Putin e o seu regime não têm reservas mentais acerca da destruição que impõem. Conhecem a doutrina do ‘apaziguamento’ (que o palhaço Berlusconi recuperou este fim de semana), já criaram campos de concentração para receber civis ucranianos e não se incomodam com sondagens. Em breve ouviremos entre nós os desistentes e o riso dos putinistas de serviço.
Da coluna diária do CM.
Tudo se passou há 60 anos, a 19 de maio de 1962. O aniversário de John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) era a 29 de maio, mas dez dias antes o Partido Democrata organizou uma sessão de campanha para angariação de fundos no Madison Square Garden em Nova Iorque – e Marilyn Monroe cantou-lhe os parabéns; Happy Birthday, Mr. President foi como a versão ficou conhecida. A letra é própria da ocasião e é pobre: obrigado por tudo o que fez, obrigado pela maneira como tratou os problemas do aço, obrigado por tudo – e terminava daquela forma de que todos nos recordamos, dengosa, sensual, promissora, apaixonada até. No seu discurso, o presidente disse que, depois de ouvir aquela versão, “agora já me posso retirar da política”; Kennedy seria assassinado um ano e meio depois, em Dallas, em novembro de 1963; Marilyn morreria daí a três meses, a 4 de agosto, com “uma overdose de barbitúricos”. Em 1991, Norman Mailer publicou o monumental O Fantasma de Harlot, um romance sobre a CIA, e só faltou aparecer esse momento fatal nas suas 1400 páginas. De resto, tudo é romance, tudo é suspeita. Vão ao YouTube.
Da coluna diária do CM.
Houve um tempo em que o Festival da Canção era o que era. Já não é o que foi. Desde há anos, o “certame” entrou no domínio da “cultura” – almas sensatas e eruditas que antes desprezavam o acontecimento (considerado indigno e piroso), hoje acompanham a negociação das votações, as presenças em palco, a noite do concurso e as próprias musiquinhas; além disso, recordam presenças antigas, trauteiam as canções e escrevem comentários inflamados no Twitter. Mais um pouco e estaremos a assistir ao renascimento e reabilitação do Festival de San Remo e do Sequim de Ouro. Nada contra. Sou um velho admirador de Madalena Iglésias (“Ele e ela”), Eduardo Nascimento (“O vento mudou”) ou Sérgio Borges (“Onde vais rio que eu canto”), bem como de Séverine (“Un banc, un arbre, une rue”), Sergio Endrigo (“Canzone per te”) ou Gigliola Cinquetti (“No ho l’età”) – e ainda recordo os Abba com “Waterloo”, os Mocedades com “Eres tú” e Vicky Leandros a cantar “Après toi”. Depois de vários anos na clandestinidade, sinto-me vingado. Neste momento estou a trautear “Nel blu dipinto di blu”, de Domenico Modugno.
Da coluna diária do CM.
O imbróglio em que a justiça portuguesa ardeu à vista de todos no “caso João Rendeiro” nunca será desatado. Há demasiadas coisas envolvidas. Provavelmente não temos cinema e talvez não tenhamos literatura capazes de transcrever o emaranhado de ilusões, charadas – sem mencionar os roubos, ilegalidades e quejandos – que transviaram esta personagem de tragédia. Depois da morte há um certo pudor, é verdade, mas nenhum dos crimes cometidos por Rendeiro deixaram de ser cometidos. O que já foi dito é suficiente para condená-lo, mas há nele suficiente material de farsa e de lição. Por um lado, Rendeiro é obra do regime que ele próprio ajudou a erguer; por outro, é vítima do abandono a que foi sujeito depois das suas escolhas e dos seus erros. Tudo nele é embuste: as operações bancárias duvidosas, a “arte contemporânea”, o dinheiro oculto, a mania das grandezas, os favores na prisão, a fuga do país. Vergonhosamente, “o regime que ele próprio ajudou a erguer” respira de alívio. Tal como não mostrava nenhum sentido da realidade, também já não tinha nada que pudesse ser útil ao passado recente.
Da coluna diária do CM.
Conheci o Fernando Sobral (1960-2022) para trabalharmos em alguns projetos de que já não me lembro (a culpa é minha). Pelo caminho, os projetos multiplicaram-se. Com ele, tudo se multiplicava. Trabalhámos, juntos e separados, em televisão, revistas, jornais e, finalmente, em livros (os seus). Na sua história profissional, que foi intensa e dispersa como a vida, cheia de riscos e desafios, o Fernando Sobral era incansável, cumpridor, madrugador e prático. À parte isso, havia o talento, que foi a sua segunda pele. Era um colunista notável, com tiro certeiro, demolidor, irónico, elegante como um homem de letras que evitava exibir-se sem necessidade. Interessavam-no a política, a literatura, a economia (muito, e de uma maneira inteligente), o whisky, a música, a geopolítica – e o Oriente: Macau, a China, o pensamento, a beleza e a sabedoria orientais. Escreveu romances, livros de crónicas ou sobre a grande finança. Quando adoeceu, encarou o combate. Tudo era um combate. A esta hora, Deus já o convidou para colunista, claro. No mundo dos vivos, a Cristina continua a zelar por ele.
Da coluna diária do CM.
Compreendo (e invejo) os que vão a Santiago de Compostela a pé, peregrinando, refazendo a história da Península e da Europa. Nunca experimentei esse desejo, mas tenho uma secreta e absurda admiração pela fé que junta milhares em Fátima. Não tanto pela multidão, que se compreende, ou pela história das aparições, que não me interessa muito, mas sobretudo pelo silêncio na grande noite da peregrinação que hoje se inaugura. Nunca experimentei essa comoção senão à distância, mas ouvi relatos comovidos, que respeito. Vista do exterior, Fátima é um fenómeno tripartido e complexo que junta religião, política e história do século XX. Não se percebe, por isso, que durante tanto tempo a igreja católica tivesse abandonado Fátima àquela fealdade de betão e cimento que agora tenta reparar e humanizar aos poucos. Para muitas pessoas, Fátima é a sua ilha, a sua cidade, o seu muro. Para muitos é a sua vaidade, a sua fúria; mas para outros é também o seu sofrimento, a sua escuridão e a sua luz mais intensa. Eles fazem de Fátima um lugar conforto, mesmo se não o entendemos. E não precisamos de o entender.
Da coluna diária do CM.
De repente, ouço-os na mesa da esplanada: “Claro que à Ucrânia lhe interessa esta guerra.” Este, que é mais velho, faz um ligeiro ruído a sorver o café, mas deixa cair a bomba onde melhor lhe convém: “E nós aqui, pá. E nós aqui a aturar a Ucrânia, pá.” O mal das esplanadas é que se ouve quase tudo e a maior parte das coisas nem sempre é agradável. “Quero lá saber do Donbass”, diz o outro. Ninguém quer. O Donbass fica longe e a maior parte de nós ouviu falar daquela tira de ruínas só em fevereiro passado, sete anos depois de a Rússia entrar na Crimeia como se repetisse o gesto de há 234 anos, quando as tropas do marechal Potemkin ocuparam o terreno, expulsando os otomanos. Na altura, o primeiro oficial a entrar na praça militar de onde se dominava o Mar Negro era português e chamava-se Gomes Freire de Andrade, aventureiro e homem de grandes gestos que terminou enforcado em Portugal. Kiev fica a 3400 quilómetros de Lisboa; é natural que os meus vizinhos de esplanada sejam abjetos. Pode-se ser abjeto a 3400 quilómetros da Ucrânia. Mas tem sempre um custo tremendo, como se vê – um dia vem o Putin.
Da coluna diária do CM.
Ignorando que somos os melhores do mundo em golos no último minuto, o Banco Central Europeu revelou ontem que, entre os 19 países da zona euro, estamos na última posição em matéria de ‘literacia financeira’. Houve, naturalmente, algumas reações escandalizadas e, na maior parte delas, lamentando que (ao contrário dos holandeses, dos alemães ou dos finlandeses) não saibamos muita aritmética, quase nada de inflação ou do sistema bancário, operações de risco ou, vá lá, como funciona a economia. Não me admira; lembrem-se que, com a economia destrambelhada, Sócrates ficou a um tiro da maioria absoluta em 2009. Nada de sobressaltos, portanto. Como escreve o meu amigo Luís M. Jorge, até parece que “nas outras literacias somos um povo espectacular”. Os vários estudos, todos eles desinteressantes, têm vindo a acumular-se uns sobre os outros, e a todos temos sobrevivido com lapidar velhacaria e habilidade. Estarmos apenas à frente da Turquia e da Roménia em hábitos de leitura, por exemplo, não agasta ninguém. Estarem a brincar com a nossa condição de melhores do mundo é que é lixado. Respeitinho.
Da coluna diária do CM.
O atual ensino da história e da cultura pretende ensinar-nos que todo o passado está cheio de crimes e de ideias erradas, o que levou a guerras, perseguição, escravatura, xenofobia, racismo e sexismo. Ninguém se salva. A universidade de Cambridge, por exemplo, tem um plano de estudos intitulado “Descolonizar o Ouvido” cujo objetivo é demonstrar que a música clássica está cheia de crimes e não passa de um fenómeno ao serviço “do patriarcado, das aspirações de classe e da expansão imperial”. Mozart, por exemplo, é um músico marcado pelo “exotismo”; Stravinsky é culpado de “apropriação cultural” por ter estudado o folclore das estepes, digamos assim; Bach está ao serviço da repressão e do império. Nem os modernos se salvam. O italiano Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, falava do “impulso de Ulisses” – que teria corrido o mundo para apreciar o melhor e o pior do humano. Porém, hoje a curiosidade e o amor pela beleza foram substituídos pela tolice dos “ativistas” políticos que transformaram o ensino e a arte em mera propaganda até não restar nada senão um mundo de talibãs.
Da coluna diária do CM.
É provável que o nome e a obra de Henry David Thoreau (1817-1862) estejam hoje reduzidos a uma espécie de aura que o sobrevoa em nome do ambientalismo. Walden, ou A Vida nos Bosques (de 1854) é um hino à natureza, uma caminhada na orla das florestas, uma estada de dois anos (e dois meses e dois dias) entre “os elementos da natureza”, procurando entendê-la, mas também compreender o significado da sua própria vida. Ao ressurgimento das preocupações ecológicas no nosso tempo correspondeu, sobretudo na América, uma recuperação da obra de Thoreau – com a necessária e compreensível apropriação pelos discursos mais em voga hoje em dia. Não interessa. A sua escrita é volúvel e densa como as sombras dos bosques – e próxima da poesia –, irónica quando precisa, direta quando é necessário, como é o caso de Desobediência Civil (1849), uma defesa do governo mínimo (“O melhor governo é o que não governa” é um bom princípio, aguardando que a humanidade esteja preparada para esse momento). 160 anos depois da sua morte, as florestas e a vida simples celebram-no como um momento de grandiosidade.
Da coluna diária do CM.
Chamemos-lhe “o caso de Setúbal” – todos sabemos do que se trata: refugiadas ucranianas interrogadas (é esse o termo) por cidadãos russos com ligações ao regime de Putin e à sua rede de influência e informação, com o beneplácito da Câmara local. Não são de hoje as ligações da câmara a essa rede que, aliás, existe noutros locais do país (por isso foi tão grave a promiscuidade entre a câmara de Lisboa e a embaixada russa, e é tão grave o que agora se passa em Aveiro). Portugal sempre foi um lugar agradável para bufos e espiões; mas hoje, seja qual for a origem, eles não precisam de um lugar – mas de uma porta de entrada dócil, descuidada e indiferente. O secretário-geral do PCP, com aquele ar de quem já viveu sucessivos pactos com o diabo (é certo que tinha apenas 8 anos quando o regime soviético e a Alemanha nazi assinaram um deles) e sobreviveu a sucessivas invasões e ocupações (Polónia, Checoslováquia, Hungria), acredita que tudo isto é feito para “manchar” (palavra sua) a honra perdida do seu partido. Quando terminar a guerra na Ucrânia, veremos as manchas que é preciso tirar a limpo.
Da coluna diária do CM.
Em 1384 páginas, O Olhar Diagonal das Coisas (Assírio & Alvim) apresenta a poesia completa de Ana Luísa Amaral, que no ano passado recebeu o Prémio Rainha Sofia. De Minha Senhora de Quê (1990) até Mundo (2021), passando por obras tão significativas como Às Vezes o Paraíso (1998), Se Fosse um Intervalo (2009), Escuro (2014) ou Entre Dois Rios e Outras Noites (2008), por quem tenho especial ternura, a poesia de Ana Luísa espalha-se como um rio, uma penumbra (nunca uma sombra) entre as árvores – soa como uma frase perfeita, não porque procure um efeito, mas porque é feita de duas sabedorias: uma, a da poesia em si mesma, porque nada, nenhum verso é totalmente inocente ou ignora as regras da música; outra, a do amor, tão obscura e tão evocativa da grande poesia do mundo (de Blake a Dylan Thomas, sim, mas também dos clássicos da arte do soneto, como Camões – onde se aprende verso perfeito). “Tive um espelho em criança,/ que me lembrava um rio.” Às vezes são poemas assim, como os de Ana Luísa Amaral, que dão sentido à nossa vida. “E sou quase completa nessa/ imperfeição.”
Da coluna diária do CM.
História verdadeira: há dois meses, na Biblioteca Nacional de São Petersburgo, na Rússia, entre arquivos e estantes, foi descoberto um retrato de um cavalheiro de bigodes divertidos e farfalhudos, apesar do semblante triste. Tratava-se de Yuri Lotman (nasceu em fevereiro de 1922), pioneiro nos estudos de teoria da cultura e semiótica, que tive o prazer de estudar na universidade; a maior parte da sua vida passou-a na então república soviética da Estónia. Pobre Lotman. O controlador político da biblioteca não consultou os investigadores nem os arquivistas; resolveu que se tratava do americano Mark Twain, e ordenou que o retrato fosse retirado sob a acusação de se tratar de um “extremista e terrorista”. Pobre Mark Twain, tão atacado hoje pelos puritanos nos EUA, sob a acusação de racismo e misoginia – ele, que combateu o racismo e a misoginia com gargalhadas. O que o polícia russo não sabia é que Twain, enquanto jovem jornalista, esteve na Crimeia com o czar, cem anos depois de as tropas do marechal Potemkin terem expulso os turcos. Já o pobre Lotman foi perseguido por ser judeu.
Da coluna diária do CM.
O filme Uma Abelha na Chuva, de Fernando Lopes, baseado no romance de Carlos de Oliveira, estreou há 50 anos. É uma peça inesquecível no nosso cinema, a par da adaptação que Lopes fez de O Delfim, romance de José Cardoso Pires, com argumento de Vasco Pulido Valente, lançado há 20 anos. Algumas efemérides lembram cavalheiros de outro tempo. Fernando Lopes (1935-2012), cineasta cultíssimo, era desse tipo de pessoas que ficam a marcar a nossa vida. Graças a ele, como diretor, a RTP2 do final dos anos 70 foi uma obra memorável – que ainda hoje deveria ser o modelo do canal público de televisão. Mas é sobretudo como realizador que devemos recordá-lo. O de Uma Abelha da Chuva (excelente Laura Soveral), o do documentário Belarmino (1964) naturalmente, que ficará como emblema da geração, o de O Fio do Horizonte (1993), que adapta um livro de Antonio Tabucchi, o de ‘98 Octanas’ (2006, revelação de Carla Chambel) e, claro, O Delfim (2002, magníficas presenças de Rogério Samora e Alexandra Lencastre). Passam hoje dez anos sobre a sua morte; é ocasião para relembrá-lo como um dos grandes.
Da coluna diária do CM.
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