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Como dizem os hipsters e as pessoas da moda que sermoneiam no Instagram, os mistérios das religiões estão fora do tempo e fazem hoje parte de uma memória muito vaga. Ao “libertar-se da religião”, a sociedade “libertou-se” também da sua dimensão histórica (em Espanha, os novos programas de história do secundário não recuam além de 1812). Depois de laico, o Ocidente fez-se cínico e, seguidamente, envergonhado e ateu. Seja como for, amanhã, quinta-feira, inicia-se o “êxodo” do fim de semana da Páscoa, que ouvi na televisão ser, antes, “férias de Primavera” – para não ferir suscetibilidades. Poucos relacionarão a palavra “Páscoa” com o êxodo bíblico e a libertação dos escravos do Egito que depois tiveram a sua passagem pelo deserto. A Páscoa, de qualquer modo, celebrava-se mil anos antes de Cristo com esse significado, pessach, do hebraico, passagem. Hoje temos o cordeiro da Páscoa (outra herança bíblica, já agora) e os ovos de chocolate, o fim de semana dilatado, o repouso merecido, a alegoria cristã da ressurreição no domingo. Repouso e libertação. Vale a pena explicar tudo isto?
Da coluna diária do CM.
Desde 1972, Nuno Júdice (1949) publicou 40 livros (além de trinta títulos de ficção e ensaio). De A Noção de Poema até Regresso a um Cenário Campestre (de 2020), há um fio condutor que não nos indica um caminho, mas várias bifurcações reunidas em torno daquele primeiro título – porque quase toda a sua poesia é uma investigação sobre a natureza do poema e da poesia, da sua matéria e da sua transformação, da sua história e da sua existência fora da história, bem como das suas melancolias. Há, nesse percurso, títulos a que regressamos para ler alguma da sua melhor poesia (A Partilha dos Mitos, Lira de Líquen, Meditação sobre Ruínas, O Breve Sentimento do Eterno, A Pura Inscrição do Amor, alguns exemplos), mas numa obra tão vasta é difícil desenhar uma escala ou uma cartografia de temas recorrentes. Construída depois da modernidade e das suas catástrofes, a obra de Júdice procura identificar os sinais de poesia que sobrevivem – parte deles estão reunidos em 50 Anos de Poesia (Dom Quixote), que acaba de sair, e onde o autor faz uma escolha tão difícil como imprescindível.
Da coluna diária do CM.
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