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Publicados para além da idade madura, Fogo (2013) e Existência (2019) são – se acreditarmos que cada poema é uma interpretação – dois dos livros que mais prolongarão a vida de Gastão Cruz (1941-2022). Por um lado, são uma espécie de leitura da sua própria obra, o anúncio de uma despedida, a confirmação esplêndida de uma voz onde não há uma grande alegria nem, tão pouco, uma grande e brava melancolia. Gastão Cruz era um dos poetas portugueses em que foi mais intensa a preocupação acerca da linguagem (tal como Ramos Rosa, por exemplo) – não porque a linguagem, em si mesma, fosse a matéria da sua longa, vastíssima obra (desde 1961), mas porque nela se pressente essa garantia: a de que não há poema sem a procura da palavra, não há vida sem uma ideia do fim, não há amor sem ocultação, não há inovação sem mestres (o que o levou a regressar às formas clássicas do poema). Essa procura da palavra não se esgotou no verso acabado – mas numa peregrinação pelo teatro, pela crítica e, sobretudo, pela leitura. Terminou a sua vida como um dos nossos grandes poetas clássicos.
Da coluna diária do CM.
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