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O hábito do cancelamento.

por FJV, em 11.03.22

Foi cancelado em Itália um concerto com música de Sergei Prokofiev, que nasceu em 1891 em Donetsk, na atual Ucrânia (curiosamente, viria a morrer no mesmo dia de Estaline). Também foram canceladas apresentações de obras de Tchaikovsky, Borodin, Mussorgsky ou do celestial Dmitri Shostakovich. Ao mesmo tempo, li apelos para que se cancelassem eventos ou cursos em redor de obras de Dostoiévski, Tolstoi ou Gogol, pobre Gogol. O ocidente, coitadinho (ai de nós, que o aturamos) habituou-se a queimar livros que, por motivos quase sempre estúpidos, não lhe agradam mas, com a criminosa invasão russa da Ucrânia, várias cabecinhas histéricas, ardentes de paixão, desataram a proibir música russa, literatura russa ou pintura russa. Estão desejosos de fazer o bem (castigar o facínora Putin) – mas praticando o mal. O que essa atitude traduz não é apenas o ardor ou a comoção diante da barbaridade das tropas de Putin – mas também o orgulho em usar uma das paranoias do nosso tempo (o “cancelamento”, a proibição) em favor do bem ou da virtude, coisa que não existe. Só existem ignorância e horror.

Da coluna diária do CM.

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