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Todas as noites nos deitamos com uma amarga sensação de perda: será hoje? Como resistirá Kiev? Ao acordar e, com o primeiro café, ainda de madrugada, vem a leitura das notícias. Às seis e meia da manhã são já oito e meia na Ucrânia. O que foi bombardeado à primeira luz do dia? Ontem, a meio do dia, na rádio, ouvi um estroina arrapazado a ler a cartilha para avisar que a Europa e a Ucrânia (e creio que a Nato, mais os cossacos e os portugueses que se manifestaram em solidariedade com a Ucrânia) tinham “acordado o urso” e, portanto, teriam de sofrer “as consequências”. Não se pode “acordar o urso”; Putin é “o urso”. Desde o século XVI que o urso simboliza o império, o que é injusto para a nobre alma russa, tanto quanto para os ursos. De qualquer modo, convém não despertar “o urso” – a ideia é que ele reage com brutalidade – para não sofrer as consequências. A chantagem do sono do urso é a última vergonha da mediocridade que se baba diante dos psicopatas, cuja crueldade é respeitada como uma virtude anormal. Kiev não chegou a adormecer, desamparada. Todas as manhãs acordamos assim.
Da coluna diária do CM.
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