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A chuva e o bom tempo.

por FJV, em 08.02.22

​​Esta era a temporada das chuvas. Não era bom nem mau tempo; chovia. No inverno havia frio. No verão havia calor. Não nos queixávamos de frio no inverno nem reclamávamos do calor no pico do verão. Na sexta-feira passada, a menina da rádio aplaudia o bom tempo: “Vai estar bom tempo, não chove, parece já a entrada do verão.” Dizia isto com aquele ar de festa apatetada, como se vivêssemos na Costa Rica e houvesse chuva bastante para encher as barragens e fazer correr os ribeiras nas serras. “Há umas pequenas nuvens, nada de especial.” No mundo da “natureza” (uma coisa que existe cá fora, e que não é apenas boazinha), chuva não quer dizer “mau tempo”; além de Lisboa, do Bairro Alto e do Chiado, há outras terras no mapa de Portugal – podem visitá-las. Seja como for, daí a meia hora, a menina da rádio entrevistava um “ativista” (nada tão solene como um “ativista”) que nos incitava a lutar contra as “alterações climáticas” tomando banho de dois minutos e diminuindo o fluxo de água do autoclismo. E depois, sorridente, despedia-se de todos: que aproveitássemos o magnífico tempo sem chuva.

[La pluie et le beau temps é o título de uma recolha de poesia de Jacques Prévert; e de uma canção dos Nouvelle Vague.]

Da coluna diária do CM.

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