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Lauro António.

por FJV, em 04.02.22

A adaptação de Manhã Submersa traduz um pouco aquilo que Lauro António (1942-2022) pensava do cinema; se se recordam, aquele trecho de A Força do Destino, de Verdi, é como uma sombra que paira sobre todo o filme – e sobre a sua ideia de cinema. O que sempre me alegrou na forma como Lauro António falava de cinema (apaixonadamente, incessantemente) foi a tentativa de ligar sempre o cinema às suas “coisas favoritas”. Uma delas, talvez a mais importante, era a literatura. Um dia gravei com Lauro António um dos programas que mantive sobre bibliotecas pessoais; em sua casa, sobre o Café Vavá, em Alvalade (lugar essencial para a geografia lisboeta da geração do Cinema Novo), todos os espaços tinham sido ocupados por livros. Na altura havia cassetes de VHS – mas a quantidade de livros era demolidora. A conversa com ele foi espantosa; de um livro passava a outro, de uma recordação a outra, de um filme a outro, a sua generosidade deixando sempre abertas as portas para mais memórias. Com ele vai parte da nossa ligação emocional e afetiva ao cinema. Será mais uma coisa que temos de agradecer-lhe.

Da coluna diária do CM.

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