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Chico e a canção.

por FJV, em 01.02.22

Pessoas geniais deviam ser proibidas, por lei, de dizer e praticar inanidades. Veja-se o caso de Chico Buarque que, em 1966, escreveu a canção “Com açúcar, com afeto”, uma história de amor e desamor, sofrimento e melancolia (primeiro cantada por Nara Leão). É a história de uma mulher que fala do marido malandro, que fica a vadiar, chega tarde a casa – e perde “seu doce predileto”, preparado com “açúcar e afeto”. Parece que houve queixas de feministas encartadas, alertando para o machismo da letra. Chico, como um rapaz moderno, retrocedeu há uns tempos, embora só agora o anunciasse: não mais cantará essa canção criminosa. Pessoas geniais deviam ser proibidas de falar. Não vou explicar a um tolo o que escreveu há 55 anos, mas trata-se de um poema maravilhoso, letal, que descreve melhor a patifaria masculina do que qualquer estudo sociológico ou denúncia cheia de explicações. Mulheres sabem. Homens, no fundo da sua culpa, sabem – perdem o doce, caramba, perdem tudo. Tal como Chico, coitado, pobre dele, que acabou por perder o juízo, tristemente, como um velho pateta gaiteiro. O negócio do ano vai ser gravar versões de “Com açúcar, com afeto”.

Da coluna diária do CM.

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