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Não, não gosto particularmente de “Arrastão”, a canção (de Vinicius e Edu Lobo) que, é unânime, parece ter lançado Elis Regina em 1965 e foi citada por Bob Dylan – mas sou fã dos seus primeiros discos, rock da época, inocente e dançável, de entre 1961 e 1964. E da voz nasalada, constipada, sensual, que transporta duas das canções de sempre, “Águas de Março” e “Uma Casa no Campo”. É essa doçura que está na sua versão de “Por Toda Minha Vida” (podem dizer que é “Só Tinha de Ser com Você”), uma das canções desse disco imortal que é ‘Elis e Tom’, de 1974. Musa brava da música brasileira, Elis emprestou uma energia rara à melancolia carioca da bossa nova – deu-lhe a força gaúcha, decisiva e combativa. Elis Regina (1945-1982) morreu há quarenta anos, assinalados hoje, e continua a ser extraordinário ouvi-la cantar “O Bêbado e a Equilibrista” (1979) ou “Se Eu Quiser Falar com Deus” (de 1980). Morreu trágica e inutilmente aos 36 anos. Quando a oiço na rádio, 40 anos depois da sua morte, penso sempre nessa canção, “Uma Casa no Campo”, como um amor que nunca ficou completo nem escrito.
Da coluna diária do CM.
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