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Os nossos “comentadores culturais” andam ocupados em traduzir as obsessões americanas e inglesas numa novilíngua exótica e mal articulada, a paranoia atual das burguesias urbanas. Por isso, a recente recolha de textos de Michel Houellebecq, Intervenções (Alfaguara) passou quase despercebida, tirando uma boa cobertura do Expresso – e, do que se disse, ressalto a ligeira vergonha por Houellebecq existir e ser publicado. Foi assim com livros como Submissão (sobre o islamismo radical francês, foi publicado no dia dos ataques ao Charlie) ou Serotonina, e acredita-se que será assim com o seu novo romance, Anéantir (Aniquilar), em que se imagina a campanha das eleições presidenciais francesas de 2027. São 740 páginas de caricaturas brutais da Europa e da França, em que as glórias da democracia hão de inventar manobras dignas de Putin para se perpetuarem no poder. O livro será publicado no final da primavera em Portugal – e é um colosso de ironia, mas nunca de ligeireza e de banalidade. As reações serão espalhafatosas e preconceituosas, como se espera. Mas o retrato do perigo está lá, mesmo sem a desculpa da pandemia.
Da coluna diária do CM.
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