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Durante a pandemia, talvez por estarmos fechados, prestámos mais atenção à forma como a nossa língua é usada – e à forma como certas palavras foram sendo repetidas abusivamente. O termo “novo coronavírus” foi usado até o vírus ser velho. Depois, apareceu a malfadada “resiliência”, usada por tudo e por nada, até perder o sentido (que já não tinha, nem tem). “Achatar a curva” – nem me falem. “Mitigar”, outro veneno. Pelo meio, o uso e abuso de “robusto”, associado geralmente a “bazuca”, e já não refiro as expressões vertidas para Português a partir do inglês, apesar de termos tradução apropriada (“empoderamento” tira-me do sério). Mas, depois do “novo normal”, temos agora “a normalidade” e o “regresso à normalidade”. Embora a ideia me assuste (o Dr. Salazar, que escrevia bem, dizia que o seu objetivo era “levar os portugueses a viver habitualmente”), saúdo o desejo de “normalidade” – uma vida civilizada, discreta, harmoniosa, com certa disciplina, valorizando as coisas simples. Não sei se somos capazes. Oxalá tivéssemos aprendido a valorizar a fragilidade das coisas que temos.
Da coluna diária do CM.
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