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Mesmo quando havia "normalidade”, até 2019, já não era o Natal de antanho. Já não se comemorava o nascimento de Jesus a não ser um número residual de cristãos, a maior parte deles considerados seres de outro planeta. Mesmo entre estes tornou-se mais corrente a designação de “festa da família” ou “do encontro” numa sociedade essencialmente laica, gentia ou ateia. “Festa da família” já não é mau e foi, aliás, um recurso dos católicos para não afrontar o ateísmo crescente e tentar que a celebração não desaparecesse. Ao cristianismo ocidental, em crise profunda, sucedeu uma espécie de “paganismo da felicidade”, irrisório, comercial e de sininhos; mesmo para quem não era cristão, tratava-se de um pretexto para nos vermos. Com a pandemia, verificou-se que o Natal era importante e que aquele jantar de família era um indício de que se podia sobreviver à solidão ou combatê-la. Talvez este regresso a casa, “por motivos sanitários”, salve mesmo o Natal. Não a festa religiosa, que não regressa, mas a ideia de nos encontrarmos em casa, a salvo do mundo, que não está coisa que se recomende.
Da coluna diária do CM.
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