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Ai, as estrelas.

por FJV, em 16.12.21

Vai uma grande animação com as estrelas Michelin. Por mim, não mudei de opinião sobre a natureza da medalha: ter as estrelas é bom para qualquer cozinheiro (há 26 dignos estabelecimentos portugueses que ostentam uma e 7 com duas), mas, sinceramente, uma parte das casas estreladas é uma grande, enorme e sorumbática chatice. Há dois anos, o chef Henrique Leis decidiu devolver a estrela que manteve durante 20 anos no Algarve; Marco Pierre White, aos 33 anos, devolveu as três estrelas Michelin do seu restaurante londrino – e não acredito, a avaliar pela opinião do excelente Luís M. Jorge, que Eugénie Brazier, que foi a primeira chef a ter três estrelas por duas vezes (antes do mítico Ducasse), aprovasse a ementa atual do seu mítico restaurante lionês. Durante anos instrumento da diplomacia cultural francesa, as distinções Michelin são uma excelente divulgação. Hoje, há mesmo estrelas verdes para a “cozinha sustentável”, um horror da moda, porque toda a boa cozinha é “bio”. Festejem-se as estrelas – mas mostre-se que há um belo caminho de paixão e prazer para lá da sua vigilância.

Da coluna diária do CM.

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O crooner.

por FJV, em 16.12.21

Imagino-o como um crooner, um intérprete de grandes canções de amor e sedução. Uma figura no palco, vestido como um herói das orquestras dos anos cinquenta; uma elegância como já não se usa e ninguém quer repetir por vergonha e falta de jeito. Rogério Samora tinha jeito para tudo. A grande interpretação deve-a talvez a Fernando Lopes, que o escolheu (e bem) para interpretar o papel do engenheiro Palma Bravo em O Delfim, de José Cardoso Pires, um retrato da decadência portuguesa do final do salazarismo; Rogério Samora fê lo tão bem que teria afastado todos os preconceitos sobre a sua grande arte. Fernando Lopes filma Samora como um intérprete da harmonia e da desarmonia, da excitação e da depressão, do amor e da dúvida, da violência e da pacificação, da valentia e da selvajaria, sempre ao lado de Alexandra Lencastre. E, naquele papel, eu via-o como crooner, de que tinha tudo: a voz profunda e perfeita, o talento, o enigma, o carácter. António-Pedro Vasconcelos disse dele o que sempre me pareceu: um dos três grandes atores portugueses. Tenho pena, muita pena, que tivesse partido.

Da coluna diária do CM.

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