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Passam hoje 200 anos sobre o nascimento de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Uma parte de mim (a pior) concorda com Nabokov, que abominava Dostoiévski (a que chamava “um escritor de terceira categoria e de uma fama injustificada”), e também com Hemingway, que o acusava, sobretudo, de “escrever mal”. Não o li em russo e não posso avaliar – mas Crime e Castigo, e sobretudo Os Demónios, estão entre os livros que não esqueci. O primeiro, porque é construído em torno dos tormentos inesquecíveis e fatais de Raskólnikov; o segundo porque, apesar de algum tom barroco (um primeiro parágrafo de contraponto e fuga), nos transporta, sem flores de piedade, ao coração do terrorismo e do extremismo – e que nos abre as portas para a leitura do surpreendente Memórias do Subterrâneo. Mas isto são notas pessoais; o resto, que é o mais importante, tem a ver com o poder extraordinário dos seus livros ao longo destes dois séculos que passaram – sobre a culpa, o arrependimento, o castigo, a idiotia contemporânea, a “alma russa”, o sentimento religioso. Está em cada coisa que sobra da nossa angústia.
Da coluna diária do CM.
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