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John Le Carré em Silverview.

por FJV, em 19.10.21

Continuo a irritar-me de cada vez que, a propósito de Silverview, o romance que deixou para ser publicado depois da morte (e que acaba de ser lançado pela Dom Quixote), se limita John Le Carré à "literatura de espionagem”. Desde o seu primeiro livro, Chamada para o Morto, de 1961 (e também o primeiro onde aparece a sua personagem George Smiley), até Um Legado de Espiões e Agente em Campo, de 2017 e 2019, que a espionagem é o cenário, o motivo e a encruzilhada dos seus livros – ultrapassando as contingências do género e relegando todos os seus rivais e imitadores para posições para lá de secundárias. John Le Carré, que morreu em dezembro passado, completaria hoje 90 anos de idade; a sua obra é pura literatura. génio, talento, invenção, poder absoluto da palavra e das personagens que desenhou com um raríssimo entendimento da arte de contar histórias. Mas não se limitou a contar histórias: inventou um mundo paralelo, cheio de traição, culpa, arrependimento, conflito, amor, perdão. Como poucos, soube ultrapassar a condição das suas histórias e colocar-se a um nível de pura poesia.

Da coluna diária do CM.

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