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Há uma razão para que Miguel de Cervantes, o autor do Quixote, tenha ficado privado da mão esquerda há 450 anos: “Lá me deram três tiros de arcabuz, dois no peito e um na mão esquerda, para glória futura da mão direita.” Lá, ou seja, na batalha de Lepanto (designação italiana para a grega Nafpaktos), que impôs um travão ao domínio otomano do Mediterrâneo a 7 de outubro de 1751, depois de os turcos terem tomado Chipre aos venezianos em agosto. Nos capítulos derradeiros de Corsários de Levante, a série do capitão Alatriste, de Arturo Pérez-Reverte, há uma descrição da batalha e dos combates que deixaram a água do mar tingida de sangue. Seja como for, a aliança dos exércitos católicos (em Espanha reinava já Filipe II; o sultão turco era Selim II, filho de Solimão, o Magnífico) saiu vitoriosa; a memória de Cervantes não é amarga e o escritor não entra em queixumes: quando compara as armas e das letras, valoriza o heroísmo verdadeiro e não pede subsídios – sobrava-lhe a mão direita, com que escreveu o que tinha a escrever. Passam hoje 450 sobre esse momento de sorte.
Da coluna diária do CM.
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