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Domingo passado, no CM, João Pereira Coutinho escrevia que “a obediência portuguesa” é um dos nossos defeitos mas pode gerar coisas estimáveis como uma taxa de vacinação mundialmente invejável. Tem toda a razão. É uma sorte para as autoridades, que podem mencionar o sucesso da operação – cujo rumo teve de ser corrigido depois de iniciado com o habitual perfume de catástrofe anunciada. Essa “obediência portuguesa” foi uma qualidade durante a pandemia, quando as diretrizes mudavam da noite para o dia e de uma semana para a outra; habituados a desconfiar do Estado e da sua desordem, os portugueses preferiram o bom senso, percebendo de onde vinha o perigo. Esta é, aliás, uma característica amável do país, retratado como patife manhoso tanto nas peças de Gil Vicente como nos romances de Camilo. Salvos do desastre, os políticos dão-lhe em troca mexericos nos impostos e uma campanha eleitoral bandoleira, enquanto acenam com dinheiro a rodos e a repetição de velhos hábitos da classe possidente – como a ostentação e o festim. Os portugueses acenam que sim. Sábios e malandros, vão aproveitando.
Da coluna diária do CM.
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