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José-Augusto França tinha a idade do século (nasceu em 1922) mas isso diz pouco sobre o seu e nosso tempo. Quando era estudante, habituei-me a vê-lo no pátio da faculdade, simpático, atento, cordato como um cavalheiro, carregado de livros e pastas – e fui assistir a três aulas do seu mestrado de História de Arte. Na época, a Gulbenkian preparava uma grande exposição de Amadeo, e José-Augusto França parecia um navio flutuando naquele exercício de recordação e homenagem: nunca vi ninguém ser tão claro, tão profundo, tão incisivo e tão sábio sobre a obra de um pintor. Como quando falava de Lisboa (a quem dedicou, além do doutoramento, outras obras luminosas) ou quando escrevia sobre o surrealismo (a cujo movimento esteve ligado). Os seus dois livros sobre a arte portuguesa – nos séculos XIX e XX – são indispensáveis em qualquer biblioteca, como referência, guia, pêndulo que nos permite dar um passo adiante na melhor das companhias: ter lido um sábio. Mas, mais do que isso, um ficcionista cheio de humor, graça, arte, fina observação. O adeus a José-Augusto França vai demorar. É uma presença eterna.
Da coluna diária do CM.
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