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Uma crónica precisa de espaço. Tem princípio, meio – e de vez em quando terá final. Releio, saltitando, as crónicas de António Lobo Antunes (As Crónicas, Dom Quixote) e vejo como aqueles textos precisam de respiração. Ainda bem que estas foram escolhidas e reunidas em novo livro, retiradas de cinco livros anteriores. Há, em quase todas, um vagar que comove; poucas devem ter sido escritas com isto de estar preso à realidade – algumas, as menos pessoais, podem ser parte de um romance, um esboço de personagem, o desenho a lápis de uma casa, o eco de uma conversa, a recordação de um miúdo doente, da filha que acaba o namoro ou de um velho que não aprendeu a calar-se. Lobo Antunes escreve as crónicas e manda-as respirar, “que respirem agora”, e elas respiram. São retratos. São disputas sobre o espaço em redor; às vezes pequenas lições de arquitetura, de outras vezes pautas onde uma música começa a ouvir-se, ou apenas as primeiras gotas de uma chuva de verão. Para lê-las precisamos também de respirar. Nada de pressas, nada de sofreguidão. Uma crónica é um escritor sentado sobre o tempo.
Da coluna diária do CM.
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