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Um funeral cabo-verdiano é coisa de nota. E o de Cesária, há dez anos, não podia ser diferente, no meio daquele calor fatal do Mindelo, ilha de São Vicente. Depois de sair da igreja, o desfile teve vários quilómetros, parando aqui e ali, ao longo das ruas, para ouvir alguém cantar – amigos de sempre, cantores de agora, recordações que ficavam. Mas, além de cantar e de tocar, havia quem bebesse (muito), quem chorasse, quem trauteasse apenas, em surdina, uma das suas canções. Não fiquei para a noite, que foi longa, celebrando a memória de Cesária. A “rainha da morna” (com perdão dos outros géneros que Cesária Évora cantou) merecia todas as homenagens – e hoje, que passam 80 anos sobre o seu nascimento, a recordação da sua despedida é agora amável e tranquila. Ao lado de vozes como Bana ou Ildo Lobo compõe uma espécie de trio amoroso de Cabo Verde. Se B. Leza tivesse vivido mais tempo, decerto teria escrito para ela, tal como o próprio Eugénio Tavares – mas a forma como Cesária cantou os poetas e o mar azul de Cabo Verde faz supor que cantou por todas as vozes do arquipélago.
Da coluna diária do CM.
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