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Cantinflas.

por FJV, em 12.08.21

O primeiro filme que vi numa sala de cinema (antes, na minha aldeia, os filmes eram projetados numa parede branca do adro da igreja) foi A Ponte do Rio Kwai, de David Lean, para seguir as façanhas heroicas de William Holden e Alec Guinness. O segundo foi Cantinflas, o Professor, com Mario Moreno. Minto; era com Cantinflas, propriamente dito – recordo que era a história de um professor desastrado e apaixonado, que metia dó ouvir dizer barbaridades de que todos ríamos na plateia. Cantinflas foi sempre assim: desastrado, apaixonado, a dizer coisas que faziam rir; uma personagem única do cinema, vinda do México desses anos 40 e 50, representando aqueles a quem o próprio Cantinflas roubou os tiques: os pobres, os que tinham de enganar a fome e de ludibriar os poderosos, os bem falantes (por isso ele é tão trapalhão, rindo-se deles e obrigando-nos a rir). Ganhou um Globo de Ouro com A Volta ao Mundo em 80 Dias, ao lado de David Niven, a incursão de  Mario Moreno (1911-1993) em Hollywood. Passam hoje 110 anos sobre o seu nascimento. Ficam aquele bigode, o riso e o ar trapalhão.

Da coluna diária do CM.

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O Brasil cansa.

por FJV, em 12.08.21

O Brasil cansa. Mas devia ser uma lição – é o retrato de um país que, para escolher uma expressão local, podia “dar certo”. Mas, tirando períodos muito raros e especiais (como o da recuperação económica e modernização do Estado, protagonizado por Fernando Henrique Cardoso, 1995-2003), não deu. Produziu um grupo de ricos e poderosos e uma multidão assustadora de pobres, políticos corruptos e imprestáveis, juízes de asilo, regionalistas reacionários e tribais, populistas abjetos – o último deles, Bolsonaro, transformou-se rapidamente numa espécie de asno encartado, obtuso e absurdo (como tudo prometia). O mesmo país onde vivem ou viveram Chico Buarque ou Amado, Érico Veríssimo ou Tarsila do Amaral, Niemeyer e Portinari ou João Gilberto e Jobim, tanto como heróis loucos e trágicos à medida de Getúlio Vargas ou o seu imperador triste, assistiu ontem à ameaça de um desfile militar em Brasília, uma coisa estranha e desusada em democracia. Mas o Brasil conseguiu reunir, sem espanto, uma esquerda anquilosada e uma canalha reacionária e populista. A beleza do país não merece este destino desafinado.

Da coluna diária do CM.

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