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Quando Oscar Wilde foi preso, acusado de indecência e sodomia, circulou uma carta a favor da sua libertação. Um dos que a não assinou (a par de Henry James ou Émile Zola) foi o Jules Renard: “Assinaria de bom grado se ele desse a sua palavra de honra de que não voltaria a pegar numa caneta.” Estávamos em 1895. A frase é cruel (digna de Wilde, aliás), mas o “combate literário” ultrapassava as fronteiras dos mimos obrigatórios de hoje, quando “todos” se sentem ofendidos com quase tudo, incluindo a sua sombra. Por pura gentileza de cavalheiro, Eça nunca chegou a publicar a carta em que chamava burro a Camilo – mas ela existe. Ontem, por curiosidade, li um site que se entretém a compor uma lista de escritores que “nunca mais devem ser lidos” depois de conhecidas as indignidades cometidas por cada um deles; de Victor Hugo a Isaac Asimov, de JK Rowling a Mark Twain ou a Tolstoi, Roth e Flaubert (e Wilde!, que era “cruel”), há “ofensas” para todos os gostos: uma palavra, um rumor, uma ideia. No futuro seremos todos bonzinhos, higienizados, sem polémicas nem atritos. Como uma melancia.
Da coluna diária do CM.
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